Editorial.

Arroz e feijão mais indigestos

24/06/2016 às 08:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:01

Ir ao supermercado tornou-se um ato de coragem e de indignação para a maioria dos brasileiros. Se desembolsar quase R$ 15 pelo quilo do feijão carioca já beira a insanidade, imagine pagar 40% a mais pelo arroz. Pois é exatamente o que se anuncia até dezembro, sendo que o primeiro reajuste não deve tardar. Só nos últimos 30 dias, a alta da saca foi de 10%, diferença que em breve vai pesar no bolso já esgarçado do consumidor.

O cálculo é da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), estado que responde por dois terços da produção nacional. Difícil é saber se esse índice estarrecedor é o que será empurrado goela abaixo das donas de casa.

A história nos mostra que dificilmente a alta junto aos produtores chega até nós, reles mortais, na mesma proporção. Basta ver o caso do feijão, que desde o início do ano foi reajustado em 41,62%. Feito ao contrário, o cálculo deveria nos indicar que o quilo do principal ingrediente do tropeiro custava R$ 7,50 em janeiro. Mas há cinco meses saía bem mais em conta, o que significa que no caminho entre a lavoura e o caixa do supermercado alguém não perdeu a chance de lucrar um pouco mais em cima do consumidor.

O que torna a situação mais dramática é pensar que o arroz com feijão, além de combinação perfeita, sempre foi a base do cardápio de todos nós, mas principalmente da dieta dos pobres. A carne subiu? Troque por ovo. O preço do tomate está pela hora da morte? Apele para a salada de cenoura. Iogurte virou artigo de luxo? Risque da lista de compras. Mas para o arroz com feijão, meu caro, não há saída. Nenhuma. O macarrão, por exemplo, está longe de ser um substituto à altura. Não tem os nutrientes nem as vitaminas, o cálcio e o ferro dessa dupla. Também não há farinha nem outra invenção que caia tão bem no estômago ou no orçamento, pelo menos até hoje.

A internet está cheia de piadas com o feijão, agora símbolo de ostentação. Tudo indica que o arroz será o próximo alvo, prova de que o brasileiro faz piada mesmo quando o cenário é dos mais desoladores. Resta saber até quando o senso de humor vai durar. Na edição de ontem, o Hoje em Dia mostrou que o número de idosos com o nome sujo em BH subiu 13,6% em um ano, devido principalmente ao reajuste dos remédios e dos planos de saúde. A inadimplência entre os jovens caiu, reflexo do desemprego que baniu esses consumidores do mercado. O próximo golpe contra nós será diário, graças ao arroz com feijão que, pelo visto, vão passar do ponto.

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