Os tiros disparados na boate Pulse calaram 49 vozes, mas tudo leva a crer que vão ecoar por muito tempo. Não só pela atrocidade cometida pelo atirador que jurou lealdade ao Estado Islâmico, mas por causa da repercussão que o ataque ganhou, nos Estados Unidos e mundo afora.
Choque e perplexidade são reações esperadas diante de um massacre dessa proporção, considerado “menor” apenas que os atentados às Torres Gêmeas, em 2011. Por isso, homenagens às vítimas, por mais sinceras que sejam, não passam de manifestações já previstas no script.
Passado o baque inicial, porém, chega a hora de ver com outros olhos posicionamentos de empresas, políticos e personalidades que não perderão a chance de brilhar sob os holofotes acesos devido à tragédia.
Nos EUA, comunidades LGBT comemoram a “rede de solidariedade” que se formou após o tiroteio. Comida e bebida chegam aos montes a centros de apoio a esse público, muitas vezes segregado inclusive do ponto de vista financeiro. Em outra frente, dezenas de profissionais – médicos, psicólogos – se oferecem para confortar parentes e amigos das pessoas executadas, ou quem mais precisar.
A ajuda é bem-vinda? Claro que sim. Resta saber se é autêntica, ou seja, se reflete uma tomada de consciência real pelos voluntários ou se não passa de fogo de palha, tão duradouro quanto o viço das flores deixadas em vigílias em frente à boate.
Na esfera política, o massacre de Orlando obrigou os pré-candidatos à Casa Branca a tratar, de uma hora para outra, de discriminação, segurança nacional e controle de armas. Reconhecidamente polêmico, o magnata Donald Trump parece ter dado um tiro no pé ao apressar-se em defender que a entrada de qualquer muçulmano no país seja proibida. Focou os holofotes, mas atentou contra si próprio ao fazer do radicalismo e da discriminação que pretendia combater suas próprias armas. Com esse discurso, reforçou ainda mais a imagem de intolerante.
Alheios a essa briga por espaço, sobreviventes do atirador contam o que se passou no interior da casa noturna na madrugada do Dia dos Namorados, enquanto tentam se recuperar do trauma e dos ferimentos. Alguns relataram que o norte-americano e filho de afegãos Omar Mateen sorria ao mesmo tempo em que mirava nas vítimas. Outros tentam entender como conseguiram escapar à fúria do rapaz que, para evitar que feridos se salvassem, descarregou as armas até em quem já estava caído no chão. Caso de Angel Colon, de 26 anos, que descreveu a data, antes do tiroteio, como “uma bela noite. Sem drama, apenas sorrisos e risos”. Exatamente como qualquer pessoa espera de um noite de diversão. Independentemente da opção sexual.