Editorial.

Endividamento e a forma de limitá-lo

19/06/2020 às 08:06.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:48

Os dados de endividamento das famílias revelados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) para o mês são mais um retrato do impacto econômico da pandemia no país. O percentual de 67,1% é o maior da série histórica iniciada em 2010, que incluiu momentos delicados como a crise internacional de 2008 e o período recessivo de 2014/2015 - ambos tiveram efeitos, em maior ou menor grau, no poder de compra e no nível de emprego.

O levantamento mostra que o problema é maior nas faixas de renda mais baixas (0 a 10 salários-mínimos), onde a capacidade de poupança é limitada e não há como contar com um colchão de proteção para momentos como o atual. E dele se evidencia que o maior vilão é, mais uma vez, o cartão de crédito. Não numa possível explosão de compra de bens, mas como instrumento para garantir o consumo mínimo e empurrar, tanto quanto possível, os compromissos financeiros, como as contas.

O principal problema, mais do que conhecido de boa parte da população, são os juros astronômicos cobrados pelas operadoras. E a bola de neve decorrente que, muitas vezes, se torna insustentável. Tanto mais diante de um cenário que se prenuncia sombrio e de recuperação lenta. Postos de trabalho fechados demorarão a ser novamente oferecidos; negócios que encerraram as atividades não darão lugar a outros por algum tempo.

Situação que reforça a necessidade de manter, tanto quanto possível, o auxílio emergencial concebido pelo Governo Federal para garantir uma renda mínima. Compreende-se que há restrições orçamentárias e que a opção pela emissão de dinheiro traria outro endividamento - este, do país. Mas não há como ignorar a importância da ação pública como mola-mestra da recuperação econômica; primeiro passo para ajudar o cidadão a reduzir o volume de suas dívidas e manter uma sobrevivência digna em tempos complicados. 

Por outro lado, a análise do emprego do dispositivo mostra como houve irregularidades em sua concessão. De forma alguma, no entanto, os justos podem pagar pelos pecadores. Não há como enxergar a recuperação a não ser como um movimento sistêmico e inclusivo, com atenção especial à base da pirâmide.
 

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