A liberação dos saques dos recursos retidos em contas inativas do FGTS é aquela boa ideia que ninguém ainda conseguiu explicar porque não foi tomada antes. Mas há uma certa empolgação exagerada em relação à medida do governo federal, que nada tem de salvadora. O efeito será mínimo na economia, infelizmente.
Jogar R$ 49 bilhões para circular no país, cerca de R$ 3,2 bilhões somente em Minas, sem cortar investimentos é uma boa medida em si. Mas o montante não chega a 1% do nosso PIB. Somente no ano passado caímos mais de 3%. Ou seja, é uma parte pequena para ser considerada a virada na economia.
Há uma boa expectativa de que os recursos sejam utilizados para reduzir o endividamento das famílias brasileiras, essencial para acelerar a retomada do crescimento.
Essa é uma questão que até rende críticas de alguns especialistas, ou de outros contrários à medida, com o temor que as instituições financeiras sejam as mais favorecidas com esses pagamentos. Faltou ao governo uma orientação clara também a quem vai sacar sobre qual o caminho ideal a seguir.
A regra prioritária é pagar o que se deve. Os supostos juros abusivos cobrados pelos bancos não podem ser desculpa para que o cidadão não pague. Mas para sair do atoleiro com o FGTS, o trabalhador deve abrir uma negociação com o credor e colocar as suas condições para a quitação do débito. Nada de aceitar a primeira oferta de quitação.
A segunda coisa que o trabalhador deve fazer com o FGTS – e o governo torce, certamente, para que seja a primeira – é o consumo. É nessa parte da população que a União confia para uma espécie de ignição da retomada do crescimento. Como a maioria esmagadora das contas possui menos de um salário mínimo, muita gente vai preferir obter algumas melhorias, como uma reforma, um eletrodoméstico novo ou o complemento do material escolar das crianças, do que guardar o dinheiro.
O importante é sempre pensar que, neste momento de crise, quem tem dinheiro é a parte mais forte do negócio. E o trabalhador precisa tirar proveito disso para conseguir vantagens, sem cair novamente em prestações. Se não houver controle, no ano que vem estaremos todos endividados novamente, sem emprego, sem salário e sem nenhuma reserva.