Os números da Pesquisa Nacional por Amostragem de Dados (Pnad Contínua) do IBGE referentes ao segundo trimestre de 2020 ajudam a compor o panorama do que será o desafio de recuperação econômica passado o que se espera tenha sido o pior da pandemia. Nada menos do que 8,9 milhões de pessoas em todo o país perderam os postos de trabalho no período, reduzindo a população ocupada ao contingente mínimo na série histórica (83,3 milhões de pessoas).
Deste modo, o índice de desemprego chega a preocupantes 13,3%, o que apenas aprofunda um quadro que já se desenhava antes mesmo da pandemia. Com a economia desaquecida, mostrando sinais tímidos de recuperação, mas diante de perspectivas de crescimento modesto do PIB. Uma conjuntura que já inspirava cuidados e demandava ações firmes no sentido de retomar o viés de alta.
Com as portas fechadas temporária ou definitivamente em meio à demanda reprimida, vários setores foram obrigados a dispensar funcionários. O que cria um círculo vicioso extremamente preocupante e facilmente compreensível mesmo para quem não domina os meandros econômicos. Se há mais pessoas com menos renda, este universo tende a comprar menos. Assim, inibe planos de aumento da produção ampliação ou mesmo criação de empresas. Que, por isso mesmo, demorarão a voltar a contratar. Também o Estado passa a arrecadar menos, o que impacta na capacidade de investimento em segmentos fundamentais, como educação, saúde, segurança e infraestrutura.
Se as políticas públicas de complementação de renda se mostram hoje decisivas, ao garantir um mínimo de liquidez que apenas o poder público poderia proporcionar, sabe-se que não há como ampliá-las indistintamente, sob pena de o rombo nos cofres ser ainda maior. Também não devem ser solução para uma população que quer ser parte da força de trabalho, e terá pela frente um desafio ainda mais árduo.
Mais do que simplesmente uma reforma tributária que pode, sim, impactar positivamente no desempenho econômico, é obrigatório elaborar programas de incentivo à geração de empregos, ampliar a oferta de crédito às empresas de todos os tipos e tamanhos e agir de forma coordenada com os diversos segmentos produtivos para buscar alternativas. Ou a onda do contágio do cenário econômico pela pandemia tende a durar muito mais do que o devido.