Editorial.

Passou da hora de menosprezar a pandemia

07/05/2020 às 20:24.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:27

É inacreditável que, com os atuais números da pandemia de Covid-19 no país, ainda haja quem minimize a doença ou procure encontrar exagero nas medidas de prevenção. Numa tentativa de explicar o inexplicável, usa-se os números de mortos por outras enfermidades, ou como consequência dos acidentes de trânsito, por exemplo, para minimizar estatísticas que superam as nove mil causadas pelo novo coronavírus, 106 das quais em Minas Gerais. Dados que escondem a triste perspectiva de serem ainda piores, considerando os casos suspeitos e as subnotificações.

Da mesma forma, insiste-se em creditar as fatalidades a condições pré-existentes, como se não fosse o vírus o agravador de quadros antes sob controle; ou o fato de ser hipertenso, diabético ou portador de outra condição mais séria se transformasse em sentença final antecipada; caminho para a forca, buscando a analogia com o instrumento usado pela Coroa Portuguesa para aniquilar seus supostos traidores, que deu fim à trajetória de Tiradentes.

É preciso chamar à razão quem não se deu conta de que nada provocou efeito tão letal em tão pouco tempo - e não adianta somar estatísticas de violência; ocorrências de outras doenças infecto-contagiosas ou o que quer que seja. E tentar dividir os casos e óbitos pela população total, para obter percentuais teoricamente favoráveis na comparação com outras nações não traz de volta quem se foi, tampouco é motivo para alívio ou orgulho.

Há muito sendo feito pelos gestores que compreenderam a gravidade da situação e preferem pecar pela cautela; pelos que acordaram para o fato de que antecipar movimentos ou subestimar os efeitos do coronavírus pode ter consequências ainda mais catastróficas. Que entenderam que por trás dos números há nomes, rostos, histórias interrompidas de modo triste. Mais fortes do que os que conseguem encontrar disposição para disseminar notícias falsas, espalhar a desinformação e desqualificar o trabalho de quem procura orientar, esclarecer, questionar.

O momento é sério, exige comprometimento e compreensão de todos. Não é hora de baixar a guarda, de desafiar determinações ou driblar restrições, mas de fazer cada um a sua parte num esforço que, não por acaso, é tantas vezes comparado ao de uma guerra. Contra um inimigo que já mostrou do que é capaz se menosprezado. Passou da hora de entender.
 

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