O grave acidente ocorrido na manhã de segunda-feira na BR-381, em São Gonçalo do Rio Abaixo, na região Central de Minas, com um ônibus que seguia de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, para Belo Horizonte, deixou quatro mortos e dezenas de feridos, conforme noticiado. Mas também trouxe à tona uma dura e perigosa realidade vivida por milhares de moradores do interior mineiro, obrigados a enfrentar cotidianamente as arriscadas estradas que cortam o Estado para receber atendimento médico adequado na capital. Segundo a prefeitura de Araçuaí, todos os passageiros eram trazidos a BH, por mais de 600 quilômetros, justamente para isto: consultas, exames ou tratamentos. Levantamento desta edição aponta que, desde o início do ano, foram registradas 25 mortes e 134 vítimas de ferimentos em rodovias no Estado, apenas em acidentes que envolveram veículos de transporte de pacientes do interior para a capital. O grande afluxo de doentes à cidade traduz-se em dados das autoridades de saúde. Na chamada alta complexidade, que engloba tratamento para doença renal crônica, oncologia, cirurgia cardiovascular, exames de ressonância e tomografia, BH é referência para todos os 853 municípios mineiros. Já na média complexidade, em que se enquadram consultas especializadas e alguns exames de imagem, ela recebe diariamente pacientes de 700 cidades. Por isso que, numa simples visita à área hospitalar da capital, onde ficam estacionados inúmeros ônibus, vans e ambulâncias com placas do interior, é possível colher tantos relatos dramáticos. São pessoas que, não bastasse o sofrimento por suas doenças, ainda se veem obrigadas a conviver de maneira frequente com as incertezas de longas e penosas viagens para ter a devida atenção médica.Uma alternativa para desfazer esse triste quadro, claro, seria a efetiva descentralização da saúde no Estado, com a implantação de centros qualificados de atendimento em cidades- polo das principais regiões, aglutinando pacientes de cidades das imediações. A distância entre o que se tem hoje e tal cenário, contudo, parece gigantesca – quase do tamanho da que muitos pacientes ainda têm, infelizmente, que percorrer.