Editorial.

Triste fim do patrimônio natural

15/06/2020 às 20:04.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:46

A semana começou com a triste notícia do incêndio que destruiu instalações do Museu de História Natural da UFMG, no Horto, em Belo Horizonte. Com as chamas se vão materiais de interesse histórico e científico, que ajudam a contar boa parte do processo geológico e biológico de evolução das Minas Gerais através dos séculos, fruto de pesquisa criteriosa e incessante. A efetiva extensão será estabelecida por meio da investigação pericial que apontará também causas, facilitadores e eventuais responsabilidades.

Infelizmente, trata-se de fenômeno nada incomum no Brasil. Basta constatar o que ocorreu há três anos no Museu Nacional do Rio de Janeiro, um dos centros de excelência para a pesquisa arqueológica e histórica das Américas. Como também com o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, de acervo mais recente, mas igualmente relevante.

Já nos primeiros desdobramentos fica claro que houve recomendações de segurança não seguidas; que as orientações dos especialistas do Corpo de Bombeiros não foram aplicadas, e um retrato inicial das condições para que se desse o triste fato sugere que não foram poucos os facilitadores para o cenário. Antes de buscar personificar culpas, no entanto, é necessário atentar para uma situação tristemente recorrente envolvendo edificações públicas. Muitas vezes a negligência, quando ocorre, é fruto da falta de verbas que, habitual no aparato educacional público brasileiro, ainda esconde o descaso para com materiais de grande importância, muitas vezes qualificados, de forma errônea, como ‘simples amontoados de ossos, pedras e fragmentos’.

Não se constroi a verdadeira história de um país, em seus mais variados aspectos, sem reconstruir e jogar luz no passado. O que somos hoje é resultado de milhares de anos de transformações e evolução que nos ajuda inclusive a construir os próximos passos de nossa trajetória. É mais do que nunca fundamental abraçar e valorizar cultura e educação de forma ampla, permitir que um trabalho tão relevante oriundo da academia chegue à sociedade. Informe, eduque, esclareça, sirva como um legado valoroso. Assim é nos países desenvolvidos, que não medem esforços para proteger sua herança histórica. Prédios podem ser refeitos, mas, em casos como este, seus conteúdos se perdem para sempre. Ainda que não se dê conta, perde o país como um todo.
 

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