(Reprodução)
Já se passaram 20 anos desde que Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) e as amigas Samantha Jones (Kim Cattrall), Charlotte York (Kristin Davis) e Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) apareceram pela primeira vez nas telas da TV norte-americana no seriado “Sex and The City”. Mas apesar de o ponto de partida ter sido dado em junho de 1998, nos Estados Unidos, não demorou para que a produção ganhasse o mundo e fosse exibida em mais de 200 países. Os filmes da franquia seguiram o mesmo caminho de sucesso e alcançaram uma arrecadação de US$ 2,6 bilhões.
Depois de se abrigar nos braços do público feminino, a produção caiu também no gosto da crítica: além de ter sido eleita como uma das melhores séries de todos os tempos pela revista Time, “Sex And The City” angariou os cobiçados Globo de Ouro e Emmy.
Mas de onde vem o êxito da série? Para a jornalista Amanda Corrêa, a relevância da produção está principalmente no fato de ela ter sido uma das precursoras do empoderamento feminino. Vale ressaltar que, se o tema continua sendo discutido nos dias de hoje, há 20 anos era ainda mais impactante falar sobre o assunto.
“Foi a primeira vez na história da televisão que um programa teve coragem de retratar quatro mulheres sexualmente ativas, independentes, vivendo histórias engraçadas e muitas vezes bizarras na cidade mais cosmopolita do mundo, Nova Iorque”, destaca ela, admiradora confessa da série.
Quem reforça o coro de Corrêa é Ana Karenina Berutti, professora de literatura, português e jornalismo. Para ela, Sex and The City foi importante por quebrar outros paradigmas, ao retratar mulheres que já passavam dos 30 anos.
“Foi um marco. Na época, a gente vinha de séries como ‘Friends’, que apresentavam mocinhas de 20 anos, que ainda não tinham vivido tudo que as personagens de ‘Sex and The City’ já viveram. Antes da produção, a mulher mais madura, mais resolvida profissionalmente, nunca tinha tido um seriado em que pudesse se enxergar”, pontua.
“As protagonistas sempre seguiam o padrão de beleza estadunidense. Na série, a própria Carrie estava fora desse padrão. Não tem traços delicados”, observa. “Todas as protagonistas tinham perfis e biotipos diferentes que faziam com que as mulheres se identificassem”, afirma Ana.
Ela destaca ainda que esta possibilidade de reconhecimento acontecia com todas as protagonistas. “É como se os quatro perfis representassem todos os tipos de mulher, mas também as várias fases de uma mulher só”.
Mesmo sem lançamentos há oito anos, franquia se mantém relevante
Embora o último filme da franquia tenha sido lançado em 2010 – e planos para uma continuação tenham sido descartados por problemas nos bastidores –, “Sex and The City” continua mantendo influência nos dias de hoje. Tanto que em Nova Iorque, cenário da produção, um passeio que leva o título da série atrai mais de mil turistas semanalmente.
A relevância da produção, porém, ultrapassa o fator nostálgico. Para Ana Karenina Berutti, a série pode ser considerada um clássico. “Quando uma obra apresenta pontos fundamentais do ser humano, ela fica para sempre. Você pega, por exemplo, um ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis, que traz as questões do amor, do ciúme, da traição. Esses são temas inerentes ao ser humano, em qualquer tempo, época, idade, sexo, classe social. Assim acontece com a série”, diz.
É justamente por abordar temas atemporais que a produção continua conquistando as novas gerações. Esse é o caso da estudante Ariane Aniceto, de 22 anos.
Embora tenha nascido pouco tempo depois da estreia oficial de “Sex and The City”, ela teve o primeiro contato com a franquia quando assistiu aos filmes que davam continuidade à história do seriado.
“A produção te hipnotiza de um jeito que, se você assiste ao primeiro episódio, depois acaba vendo tudo”, confessa. A independência e a amizade entre personagens são fatores destacados pela estudante. “Elas não dependem de homem, nem de família. Conseguem crescer sozinhas e juntas”.
"Sex And The City" e a moda
Foi com um tutu de bailarina, peça comprada em um brechó, que Carrie Bradshaw fez a primeira aparição em “Sex and The City”, ainda na abertura da produção. Mas se nessa imagem a protagonista não aparecia com roupas de grandes grifes aclamadas pelo universo da moda, o que aconteceu ao longo da série foi bem diferente. Não por acaso, os looks e a paixão por sapatos da marca Manolo Blahnik fizeram da protagonista um dos maiores ícones fashion da época – título que perdura ainda hoje, principalmente em relação a Sarah Jessica Parker, atriz que deu vida à personagem.
“A Carrie era declaradamente apaixonada por moda, sempre frequentava lojas e mostrava as compras às amigas. Até fez um desfile em um dos episódios”, aponta Luciana Crivellari Dulci. “Além disso, ela tem um corpo bem esguio, que corresponde ao padrão ideal para as modelos que exibem roupas em mídias e desfiles”, pontua a professora.
Mas não era somente na vida de Carrie que a moda surgia como parte importante. A questão permeava também a vida das amigas Samantha, Charlotte e Miranda. “Como todas são muito bem remuneradas em suas profissões, podem comprar produtos de grifes internacionais conceituadas e caras, e falam disso na série, mostram essas roupas, sapatos, bolsas e acessórios o tempo todo. É bastante evidente esse aspecto durante cada episódio”, pontua. Para Amanda Corrêa, é nessa relação com a moda que reside o principal legado da série. “Por muito tempo e ainda hoje, os estilos das personagens são relevantes, influentes e amplamente copiados”, sublinha.