49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro entrega troféus nesta terça; cinco mineiros na disputa

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
25/09/2016 às 17:52.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:58
 (Ana Vilhana/Divulgação)

(Ana Vilhana/Divulgação)

BRASÍLIA – Uma maneira pouco comum de ver Belo Horizonte na tela de cinema, em que o centro da capital é o protagonista, mas não de forma aberta, com as suas principais ruas e prédios preenchendo a cena. Nos curtas “Estado Itinerante” e nos longas-metragens “A Cidade Onde Envelheço” e “Elon Não Acredita na Morte”, os planos são fechados, substituindo o título de cidade acolhedora por uma carga opressiva.

Essa é a BH apresentada no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que terá hoje o seu último dia de competição – a cerimônia de entrega dos troféus acontece amanhã, no Cine Brasília. Cinco produções mineiras estão na disputa do Candango. Completam a representação os curtas “Solon”, de Clarissa Campolina, e “Constelações”, de Maurílio Martins, que não foram rodados em BH.

Em “Estado Itinerante”, a história acompanha uma cobradora de ônibus com conflitos particulares. Aos poucos vamos saber que ela sofre violência doméstica. “Nossa cidade tem a característica de ser muito conservadora. A personagem quer sair daquele lugar, um bairro de periferia que impõe sua tradição, mas o seu horizonte, a cidade, também pode ser opressor”, registra a diretora Ana Carolina Soares.

Esse horizonte é visto na sequência final, onde há um único plano aberto, dos morros (o bairro Boa Vista) em direção à região central, enxergada como um amontoado de prédios, como caixas coladas às outras. Plano que também aparece em “Elon Não Acredita na Morte”, de Ricardo Alves Jr. Com a câmera quase sempre na nuca do personagem-título, o filme percorre corredores labirínticos, atravessando portas intermináveis.

“Meu filme mostra um lugar da cidade em ruína, também opressivo. A cena em que vemos a cidade de longe acontece no meio da história, quando Elon está imprensado entre esses dois lugares, o bairro e o centro, como se fosse um momento de transição”, afirma Ricardo, que se valeu do prédio abandonado da Escola de Engenharia da UFMG como principal locação de uma trama de suspense sobre um homem estranho à procura de sua esposa.

Figuras icônicas
Elon é um personagem real, presente no filme anterior do realizador, o curta “Tremor”, que desenvolve um dos momentos do longa, quando o protagonista sai de casa para o Instituto Médico Legal, para reconhecer o possível corpo da mulher. “Ando muito pelo centro de BH, sempre encontrando figuras icônicas. E um deles é o Elon. E quando vi o curta, houve uma identificação, pois sabia o que estava por trás daquele olhar”, revela o ator Rômulo Braga.

Forte candidato ao prêmio de melhor ator do festival, Rômulo conta que recebeu o roteiro de “Elon Não Acredita na Morte” para fazer uma leitura dramática, em 2015, e secretamente, segundo ele, passou a pesquisar tudo o que podia sobre a história do personagem. “Mas aí, quando cheguei ao set, houve um processo de desconstrução disso tudo, o que foi mais maravilhoso, para sair dessa idealização”, conta.

Filha do músico Marku Ribas, falecido em 2013, Lira Ribas também desponta para ganhar o Candango de melhor atriz em sua primeira atuação de destaque no cinema. Ela se divertiu durante o debate de “Estado Itinerante” quando lembrada de seu passado como jogadora de vôlei do Minas Tênis Clube. “Me descobriram”, brincou a protagonista, que responsabiliza a veia artística da família pela investida nas artes cênicas.

Lira Ribas é a única atriz no grupo de cobradoras do curta “Estado Itinerante”. As demais trabalham de verdade em ônibus


Praticamente todas as cenas são externas. O interior da casa onde a personagem apanha do marido nunca é mostrada. “Assim como as marcas no corpo dela. É uma maneira de não espetacularizar e de mostrar que o agressor nunca é visto em nossa sociedade, já que a violência doméstica pertence à normatividade”, explica.

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