A construção de um novo pacto

09/08/2018 às 17:50.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:51

             Cada vez mais, os movimentos das placas tectônicas da política brasileira parecem encaminhar o pleito presidencial para mais uma disputa entre o PT e o PSDB. Vale a pena refletir sobre como ambos os partidos estão se articulando para assumir o poder.

Há algumas semanas atrás, ouvi pessoalmente um discurso do senador tucano (e candidato ao governo) Antônio Anastasia, em Tiradentes. Um dos pontos marcantes do seu discurso foi o convite a uma pacificação nacional. Neste final de semana, assisti, em uma sabatina na TV, o candidato tucano à presidência da República, Geraldo Alckmin, fazer o mesmo tipo de apelo.

Causa espécie, contudo, que, na prática, os tucanos estejam indo em outra direção. Afinal, a escolha da senadora Ana Amélia Lemos – que incentivou o povo gaúcho a usar o relho (chicote) para agredir os membros da caravana do ex-presidente Lula – não parece muito coerente com quem quer buscar a pacificação do país.

Do outro lado, há o consolo de que o PT, mais uma vez, sinaliza ter a intenção de construir um novo pacto social e político, no Brasil. É provável que a maior disposição petista para a concertação venha do diagnóstico feito pelo sociólogo e cientista político da Universidade de Nova York, Adam Przeworski, de que não há outra opção para a esquerda democrática governar que não seja pela construção de pactos amplos.

Vi com certa surpresa a reação meio raivosa de parte da imprensa com o acordo nacional firmado entre o PT e o PSB, a partir das iniciativas do governador Fernando Pimentel e do ex-presidente Lula. Ressaltaram que os petistas chamam os membros do PSB de golpistas e que, portanto, esse acordo representaria uma incorrigível contradição.

Gostaria de contrapor esse diagnóstico com um importante exemplo histórico. Em 1966, os ex-presidentes JK e Jango formaram a Frente Ampla com o “pai de todos os golpistas” e ex-governador fluminense, Carlos Lacerda. Ninguém mais do que eles tinha razões para desgostar de Lacerda. Todavia, a boa política é feita de atos grandeza!

Lula e o PT deram outro passo importante para a construção de um novo pacto nacional, ao indicar o ex-prefeito Fernando Haddad para a posição de vice-presidente em sua chapa. Além de ter demonstrado capacidade para a busca do diálogo, durante seu período à frente da prefeitura de São Paulo, Haddad é hoje professor do INSPER, uma instituição de ensino superior fortemente vinculada à elite empresarial. Sua exitosa experiência como docente do INSPER é mais um indicador de sua capacidade de comunicação com quem tem posições diferentes das suas. Habilidade que se fará necessária, pois se o PT vencer a eleição presidencial, mais uma vez, precisará formar uma coalizão com vários outros partidos, além do PSB!

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