A distância que nos separa

27/10/2017 às 15:35.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:25

A Oxfam Brasil divulgou, em setembro último, o informe “A distância que nos une — um retrato das desigualdades brasileiras.” Entre os dados preocupantes se destaca que apenas seis bilionários brasileiros acumulam riqueza igual à da metade mais pobre da população, cerca de 100 milhões de pessoas.

       Apesar dos avanços das políticas sociais na última década, o Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Mais de 16 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.

       Segundo o informe, os 47 milhões de brasileiros que ganham um salário mínimo por mês precisam trabalhar quatro anos para ganhar o mesmo que recebem, em um mês, os privilegiados que formam 1% da população. E demorariam 19 anos para juntar o equivalente a um mês de renda média do segmento 0,1% mais rico.

       Se for mantida a tendência dessa injusta distribuição de renda dos últimos 20 anos, as mulheres brasileiras terão renda igual à dos homens somente em 2047, ou seja, daqui a 30 anos. E a população negra conseguirá ganhar o mesmo que a branca somente em 2089, ou seja, daqui a 72 anos!

       Se a redução da desigualdade de renda permanecer no ritmo médio constatado desde 1988, o Brasil levará 35 anos para alcançar o atual nível de desigualdade de renda do Uruguai, e 75 anos para alcançar o patamar da Inglaterra.

       “Precisamos falar sobre as nossas desigualdades e os caminhos existentes para reduzi-las. Se no mundo a desigualdade já nos causa espanto, no Brasil essa situação é ainda mais dramática”, afirmou Katia Maia, diretora da Oxfam Brasil.

       Para ela, a situação nacional é “inadmissível” e precisa ser enfrentada por toda a sociedade para, de fato, ser solucionada. “Existe uma distância absurda entre a maior parte da população brasileira e 1% mais rico, não apenas em relação à renda e à riqueza, mas também ao acesso a serviços básicos, como saúde e educação. Atacar essa questão é responsabilidade de todos”, ponderou Katia Maia.

       O que já é absurdo, entretanto, pode piorar. A diretora da Oxfam Brasil enfatizou que estimativas do Banco Mundial indicam que, ainda neste ano de 2017, 3,6 milhões de brasileiros devem voltar para a situação de pobreza, devido aos retrocessos do governo Temer em matéria de políticas sociais.

       Nosso atual sistema tributário reforça as desigualdades. “O efeito da tributação no Brasil é, no geral, de aumentar a concentração da renda ou, no mínimo, não alterá-la. Trata-se de uma situação já resolvida na maioria dos países desenvolvidos (onde a tributação, de fato, distribui renda), e que compõe barreira estrutural na redução de desigualdades no Brasil.

       Segundo Rafael Georges, coordenador de campanhas da Oxfam Brasil, a trajetória de redução de desigualdades que vinha desde 1988 foi interrompida e o país está hoje “dando muitos passos para trás na garantia de direitos à população”. “Enquanto isso, a concentração de renda e de patrimônio continua intocável. Se não enfrentarmos essa situação, vai ser ruim para todos no país, mas principalmente para quem pouco ou nada tem para se proteger”, afirma.

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