A FORÇA DO EMPREENDEDORISMO

22/12/2016 às 16:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:11

Quando se lê autores da Economia Clássica (Adam Smith, Robert Malthus, David Ricardo ou Karl Marx), observa-se que eles analisam todos os problemas do capitalismo a partir da existência de três classes sociais. São os trabalhadores, os proprietários de terra e os capitalistas. Uma realidade social da época em que viveram.

Em 1803, Jean-Baptiste Say escreveu um Tratado de Economia Política que é lembrado até hoje por duas razões principais. Em primeiro lugar, formulou a lei dos mercados mais conhecida como Lei de Say, na qual previa um futuro dourado para o capitalismo. A Lei de Say se resume na expressão: a oferta total de bens e serviços cria a própria demanda total de bens e serviços.

O valor da produção total da economia gera uma renda nacional que é apropriada pelas três classes sociais sob a forma de salários, renda da terra ou da propriedade e lucros/juros já que tratavam os capitalistas como empreendedores. Cada classe, de posse de sua renda, pode gastá-la em despesas de consumo ou poupá-la. Quando poupa pode aplicar o recurso financeiro em seu empreendimento ou emprestá-lo para viabilizar o investimento de terceiros. Em outras palavras, a renda total é gasta em despesas de consumo ou em despesas de investimento.

Neste ponto, as conclusões do pensamento de Say são ingenuamente otimistas para o futuro do capitalismo. Não há possibilidade de ocorrer uma depressão econômica no sistema. Não há necessidade de intervenção do governo para estabilizar a economia. Não há motivo para se preocupar com desequilíbrios temporários em mercados de produtos específicos, pois as forças desacorrentadas de oferta e procura trazem os mercados de volta ao equilíbrio. Assim, tudo está melhor no melhor dos mundos. Durante a crise de 1929, a Lei de Say será alvo preferencial da crítica de Keynes sobre a necessidade de se refazer o capitalismo do início do século XX.

Say ficou conhecido também por diferenciar a figura do empresário (entrepreneur) no contexto de uma economia de mercado. Um empresário não se confunde com o trabalhador, embora no caso da microempresa as duas funções (de empreender e de produzir) possam ser confundidas. Ele não se confunde com o proprietário ou com o capitalista, pois pode comprar os serviços de ambos pagando, nos respectivos mercados, aluguel e juros. Em outras palavras, o empresário não precisa ter capital, não precisa ter propriedade, não precisa ser trabalhador assalariado. Então, afinal o que caracteriza o empresário no regime capitalista?

O empresário é um agente econômico que não tem aversão ao risco. Ele é um inovador que combina os fatores de produção para alcançar não só o equilíbrio financeiro de sua empresa como também, e, principalmente, maximizar o seu lucro. Esse lucro não é garantido, pois como diz François Perroux, o maior economista francês do Pós-II Grande Guerra e pioneiro na concepção de uma Europa sem fronteiras – garantir o lucro é destruir o capitalismo.

O empresário é o elemento mais importante no sistema capitalista. Ele é intuitivo, ele tem faro para bons negócios, ele é dinâmico, ele tem espírito animal (animal spirit como diz Keynes) e é inovador.

Como destaca Keynes, o principal objetivo de um investimento (acumulação de capital ou de riqueza) é produzir resultados ou resultados potenciais num futuro relativamente distante. O fato de que nosso conhecimento do futuro é flutuante, vago e incerto torna muito difícil ter uma visão mais clara e responsável de como se distribuem consistentemente no futuro as perdas e os danos das decisões tomadas no presente.

E o empresário é justamente o protagonista social que não vive de aplicações financeiras no presente sem trabalho e nem de renda do trabalho acumulada no passado. Ele é afeito ao risco no mundo das incertezas do sistema.

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