Doutor da FGV publica artigos em revista ALEMÃ sobre o excesso de números nas receitas econômicas
A economia deve privilegiar os números em suas análises, certo? Na opinião de muitos especialistas, essa é a linha teórica que predomina atualmente. Entretanto, como ressalta o doutor no assunto pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) Maurício Luperi, a economia é uma ciência social e, por isso, não deve ser desenvolvida como uma ciência exata, com a excessiva utilização de modelos matemáticos.
Luperi faz parte do grupo de pesquisadores da FGV “Novo Desenvolvimentismo e Democracia Social”, liderado pelo professor e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, principal crítico, no Brasil, desse processo de “matematização” da economia.
As análises de Luperi ganharam visibilidade e, recentemente, ele foi convidado por uma editora alemã a publicar seus artigos sobre o tema na Europa. Três estudos foram compilados no livro “Three Critical Essays on the Process of Economics Mathematicization”, ou, em tradução livre, Três Ensaios Críticos no processo de matematização da economia.
Início
A origem do fenômeno, segundo Luperi, está no fim do século 19, quando autores começaram a transformar a economia em uma ciência mais exata, para que fosse reconhecida, de fato, como ciência. Por isso, começaram a aplicar fórmulas matemáticas na elaboração teórica. No período entre guerras, a partir da segunda metade da década de 20, o processo começou a se acentuar.
Para chegar a essa conclusão, o pesquisador analisou 5.733 artigos, de três das principais revistas de economia do país, publicados entre 1981 e 2010.
No primeiro ensaio, Luperi faz uma revisão dos principais autores que abordaram o modo como as transformações na física matemática tiveram impacto na produção científica na economia.
No segundo, apresenta os principais benefícios desse processo, enquanto, no último, Luperi analisa como a formalização matemática na economia avançou no Brasil nas três últimas décadas.
Números e modelos
Mesmo considerando que os instrumentos na economia não são controláveis, já que ser humano não é controlável como a química e a física, o pesquisador avalia que a ciência exata é fundamental na análise econômica.
“Não se critica a matemática em si, mas como esse instrumento é utilizado. E, normalmente, baseado em pressupostos irreais. Em termos de políticas de governo, há intervencionistas e liberais. Normalmente, a teoria econômica matematizada tem uma característica predominantemente em política econômica com um caráter mais liberal: o governo não deve intervir, não tem que ter déficit, não tem que expandir a moeda”, explica.
A implicação de tudo isso é a questão dos modelos fechados, que não permitem muita margem de manobra, avalia Luperi.
“Já os outros, os intervencionistas que usam a matemática, mas com modelos mais abertos, afirmam que não há esse equilíbrio geral na economia, como dizem os liberais, e que é necessária a intervenção do Estado”, afirma.
Perfil
Para o pesquisador, com o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, as políticas tendem a ser mais de austeridade, de diminuição de empréstimos para grupos empresariais por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O Joaquim Levy é de uma escola ultraliberal, mas isso não significa que ele vá aplicar tudo o que aprendeu na Escola de Chicago”.
Escola
O ex-ministro Bresser-Pereira, orientador de Luperi na tese de doutorado sobre o tema, avalia que o uso excessivo de matemática na economia é um erro. Para ele, seria mais coerente se o método utilizado para estudar o tema fosse o histórico.
A publicação está à venda na Alemanha, Japão, Inglaterra e Estados Unidos. Apesar de ainda não ter chegado ao Brasil, está disponível, desde dezembro, no site da Amazon, por US$ 39,90, ou cerca de R$ 105.