A revista médica britânica “The Lancet” vai publicar nesta semana o estudo da Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (AIPC), vinculada à Organização Mundial da Saúde, alertando que uma das causas do câncer do pulmão é a poluição atmosférica. Com essa descoberta, o ar poluído passa a ser classificado na mesma categoria de outros agentes cancerígenos conhecidos, como cigarro, amianto, plutônio, poeira de sílica e radiação ultravioleta.
O diretor da AIPC, Christopher Wild, disse que a classificação da poluição atmosférica como agente cancerígeno serve de alerta aos governos sobre os perigos e os custos de não evitar a contaminação do ar. A imprensa teve acesso, na quinta-feira passada, a parte do relatório. Há fortes indícios de que o câncer da bexiga seja também causado pela poluição atmosférica.
A boa notícia é que existem formas muito eficientes para reduzir a contaminação do ar. Só está faltando a consciência da comunidade internacional – e local – para começar a adotá-las.
O diretor da seção de monografias da AIPC que tem a tarefa de classificar os agentes cancerígenos, Kurt Straif, disse em entrevista em Genebra que a poluição atmosférica externa é a principal causa ambiental das mortes por câncer no mundo. Em 2010, pelo menos 223 mil mortes por câncer de pulmão resultaram dela.
A classificação já abrangia muitas substâncias encontradas no ar poluído, como fumaça dos motores a diesel, metais, solventes e poeiras, mas é a primeira vez que os especialistas classificam o próprio ar poluído dos ambientes externos como uma causa do câncer.
A partir de agora, as autoridades precisam começar a agir mais firmemente contra a poluição atmosférica no país. Presume-se que não queiram usar máscaras contra gases o tempo todo, para não correrem risco maior de morrer de câncer. Medida necessária, embora impopular, é a inspeção veicular obrigatória, feita periodicamente, para medir a poluição provocada pelos automóveis, ônibus, motos e caminhões.
É necessário, porém, que o dono do veículo não seja explorado pelo poder público ou por um concessionário, como parece ser o caso em São Paulo, onde a inspeção é feita por uma única empresa. A prefeitura paulistana tenta na Justiça suspender o contrato e acena com a possibilidade de número maior de empresas contratadas fazerem as inspeções sem cobrança de taxas. O prefeito compreende que, mais importante do que faturar, é preservar a saúde.