Com mais de 500 mil habitantes, Juiz de Fora completou, nesta semana, 166 anos de existência. Ao mesmo tempo cosmopolita e provinciana, a cidade continua encantadora e segue como uma das mais importantes de Minas Gerais. Sua história é culturalmente muito rica e foi construída pela combinação das tradições de sua gente com uma busca incansável pelo vanguardismo econômico e cultural, tanto na região quanto no país.
Após todos esses anos, a “princesa de Minas”, como o município é cantado em seu hino, cresceu, e caminha esperançosa para chegar aos dois séculos de vida preservando as qualidades que fizeram dela uma cidade hospitaleira e progressista.
Mas seu objetivo não será fácil de ser alcançado. Assim como ocorre em grande parte dos grandes municípios do país, Juiz de Fora sofre com a crise econômica e o aumento da desigualdade social. Se considerarmos as consequências de seguidas administrações equivocadas, podemos dizer ainda que, hoje, a princesa está mais para uma elegante e simpática senhora maltratada.
Infelizmente, a cidade é o reflexo de uma nação onde o progresso é resultado exclusivo da força, da vontade e do trabalho dos indivíduos. Não existe, e nunca existiu, um plano de desenvolvimento nacional, no qual as potencialidades regionais são exploradas em processos sólidos e contínuos, administrados e monitorados pelo Estado. De maneira geral, no Brasil, os ciclos econômicos são frágeis, rompidos bruscamente, e deixam como legado um rastro de problemas dramaticamente expostos, por exemplo, nos índices de violência e desemprego.
Juiz de Fora surgiu em função da exploração do ouro durante a colonização portuguesa, enriqueceu com a cafeicultura, experimentou dois consistentes períodos de industrialização e chegou a ser conhecida no início do século XX como a “Manchester Mineira” – em alusão à cidade de Manchester, na Inglaterra –, devido ao seu pioneirismo na produção industrial.
Tudo isso, entretanto, ficou para trás. Atualmente, a economia municipal está totalmente baseada no setor de serviços e, dessa forma, é refém da crise econômica brasileira. As lojas vazias e os profissionais parados diluem as perspectivas para o futuro e revelam um monstro chamado desemprego. Além disso, nossa única esperança de melhora está nas mãos do governo federal, mergulhado em uma crise sem precedentes.
Não podemos esperar nada da atual administração municipal, que, engessada em sua própria incompetência, foi incapaz de preparar a cidade para buscar alternativas produtivas.
As mudanças no perfil econômico e social das cidades são naturais. Elas acompanham a própria evolução da humanidade e são inseridas no contexto de cada período histórico. O problema são as transições, principalmente quando acontecem sem qualquer preparo e planejamento para evitar ou amenizar as dificuldades das pessoas nos períodos de crise ou de transformações profundas.
Meu pai, Tarcísio Delgado, foi prefeito de Juiz de Fora por três mandatos. Acompanhei de perto seu trabalho e essa experiência ampliou o orgulho e o amor que tenho por essa terra que já foi dos índios puris e coroados, de desbravadores, tropeiros, fazendeiros, colonos, escravos, migrantes, imigrantes e operários. Aprendi com ele que o município precisa ser conduzido com foco no presente, mas mantendo um olhar objetivo no futuro. Isso faltou às últimas gestões e os juiz-foranos estão pagando um preço alto.
O que não falta, entretanto, é confiança nesse povo trabalhador. Tenho convicção de que vamos conseguir superar mais esse momento difícil, pois, pedindo licença para usar neste espaço as palavras do meu amigo empresário Wilson Resende, “não estamos sozinhos e todo juiz-forano compartilha do mesmo propósito”. Para nós, apesar dos descuidos atuais, Juiz de Fora sempre será a “princesa de Minas”.