A próxima desculpa

23/10/2018 às 21:13.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:23

Não é que o Cruzeiro seja exatamente uma espécie de esquadrão modelo para o que se considera proposição de jogo. Mas que para os discursos epidêmicos e injustos, simplórios – que continuaram mesmo após o título da Copa do Brasil, e se apegam a rótulos, não brotam abastecidos por um adequado acompanhamento das partidas –, de que a equipe decepciona, "tinha a obrigação de apresentar mais", as dificuldades impostas pela realidade têm sido duras... Minha aposta para o futuro mais imediato destes abnegados contorcionistas da retórica: podendo utilizar os titulares com mais frequência, o time celeste há de crescer no Brasileirão. Um futebol fluente, com gols, não seria surpresa para quem realmente observa a equipe. Para os adeptos do lugar-comum em tela, todavia, estaremos diante de uma quase aberração, de algo que, na ânsia por sustentar seus argumentos, eles não gostariam de ver. Eis que surgirá a próxima desculpa: leve pela ausência de uma cobrança mais clara pelos resultados, o conjunto se soltou. Sem responsabilidades, pôde atacar mais. Despido de riscos, Mano não sucumbiu aos vícios, aos excessos de pragmatismo. Santa bobagem...

E como este erro acomete – também – os "especialistas"...

No tricolor a fase de pontuação positiva não era acompanhada de convencimento nas performances; triunfos no fio da navalha, a fórceps... Mas Aguirre projeta um ar, uma imagem; toma decisões pontuais que concedem uma impressão... Aí muita gente da mídia adora, vai na onda. Sem que haja o condizente real para espremer...

O sucesso de Mano e o ocaso de Aguirre deveriam deixar muita gente com o rabinho entre as pernas – isso se essas pessoas possuíssem dose mínima de um bem-vindo pudor. Profissionais que pecam pela ansiedade, pela sede determinista, de ser taxativo, ter opiniões de "personalidade", e pela superficialidade, pelo apego a chavões. Nesta linha, o triunfo de Felipão também teria de arrasar redações. "Obsoleto", "simplório"... Não se trata de ser oportunista e dizer que o êxito era cantado. Não era. Pé atrás, abrir alas para as incertezas, ter a humildade e a sabedoria de dizer "não sei", de não querer cravar, se antecipar, porém, deveriam ser comportamentos bem mais recorrentes nas análises futebolísticas.

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