O governo interino de Michel Temer, que tem cortado sistematicamente os subsídios oferecidos às indústrias durante os governos Lula e Dilma, enfrentará forte pressão dos setores exportadores para o retorno do Reintegra, o regime especial para recuperação dos impostos embutidos nos produtos exportados. De acordo com representantes da indústria, não existe qualquer perspectiva de retomada da produção neste ou no próximo ano via consumo interno. Por isso, fazem gestões para o estabelecimento de mecanismos e políticas de incentivo à exportação.
Empresários dos setores siderúrgico, automotivo e de máquinas e equipamentos, reunidos ontem e hoje no Congresso Brasileiro do Aço, que acontece em São Paulo, foram unânimes em apontar a exportação como única porta de saída para a crise. E, além do Reintegra, levantaram a necessidade de um câmbio mais favorável e estável, oferta de financiamento às exportações e juros compatíveis com os praticados internacionalmente.
A indústria pede, portanto, tudo o que o governo Temer e a nova equipe econômica sinalizam que não farão.Para financiar pesadamente as exportações, o governo precisaria de um BNDES capitalizado e ofertando juros, se não subsidiados, ao menos próximos aos custos de captação.
Mas, para contribuir para o acerto de suas próprias contas, o governo já anunciou que pretende retornar ao seu caixa R$ 100 bilhões em forma de adiantamento pelo BNDES das capitalizações feitas pelo Tesouro. E que a prática do juro subsidiado para segmentos considerados estruturantes está encerrada.
COMPETITIVIDADE
Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração da Gerdau, foi sintético ao apontar o que precisa mudar: “Câmbio, tributo e custo do dinheiro”, disse. “O Reintegra não é benefício tributário. Esse pensamento precisa mudar. É isonomia competitiva com os outros países”, defendeu.
Marco Polo de Mello, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, que representa as empresas siderúrgicas, lembrou que a produção de aço no Brasil voltou ao nível de 2007, um retrocesso de quase uma década, que a utilização da capacidade instalada das indústrias está atualmente em 59% e que o setor, que já havia demitido 30 mil trabalhadores, fechará este semestre com outros 11 mil demitidos.
Sem perspectiva de retomada no curto prazo do consumo interno de automóveis e eletrodomésticos, nem de reação das indústrias da construção civil e de máquinas e equipamentos, que juntos são responsáveis por mais de 80% do consumo de aço no país, fica claro que a única alternativa colocada hoje para a siderurgia seria, de fato, a exportação.
Mas não seria alternativa para alavancar a rentabilidade das empresas. Em função da depressão dos preços no mercado externo, exportar não significa lucro, mas apenas ocupação da capacidade instalada e geração de caixa. Tanto que nos primeiros cinco meses deste ano, as exportações de aço já cresceram 21,1%, para 4,471 bilhões de toneladas, mas a receita em dólar encolheu 25,7%, para US$ 2,711 bilhões. Pode não ser rentável, mas pelo menos mantém a roda da siderurgia girando, o que não é pouca coisa.