A volta dos que não foram

16/05/2018 às 17:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:52

Na minha coluna da semana passada, falei sobre a efemeridade do que parecia ser um deslocamento do centro de gravidade da política sul-americana em direção à direita liberal. Algo semelhante tem ocorrido internamente, no Brasil.
A partir de 2013, com as chamadas “jornadas de junho”, o espectro político mais à esquerda parecia entrar em um processo de enfraquecimento, com a resultante migração do eleitorado para a direita, em particular em direção à direita liberal ou centro-direita. Evidências desse deslocamento seriam o resultado extremamente apertado das eleições presidenciais de 2014 e a derrota do PT nas eleições municipais de 2016.

Penso que houve uma espécie de ilusão de ótica. O eleitorado brasileiro não migrou do espectro político mais à esquerda para a centro-direita. O deslocamento, se houve, foi de parte do eleitorado de centro-direita para a extrema direita.
A vitória apertada de Dilma em 2014 se deveu a elementos muito específicos e não significou um deslocamento ideológico do eleitorado. Por sua vez, as eleições municipais são fracamente influenciadas por fatores ideológicos, além de que, no caso de 2016, houve, na verdade, uma forte rejeição dos partidos políticos tradicionais e, assim, quanto mais próximo do poder nos tempos logo anteriores, maior o enfraquecimento do partido.

O fato é que as pesquisas sobre intenção de voto mostram que o centro de gravidade da política brasileira está hoje claramente estacionado mais à esquerda. Tomando-se as cinco últimas pesquisas nacionais (a saber: Datafolha, Vox Populi/CUT, IBOPE/Band, Paraná Pesquisa/JB e MDA/CNT), observa-se que, na média desses levantamentos, os representantes de seis partidos de esquerda ou centro-esquerda (PT, Rede, PSB, PDT, PCdoB e PSOL) somam cerca de 2/3 das intenções de voto para a Presidência da República. Não há razões para imaginar que isso irá se reverter até outubro.

Na verdade, se observa que o processo de condenação e prisão do ex-presidente Lula e o fracasso político do golpe iniciado em 2015 têm levado ao fortalecimento da imagem positiva do PT e do ex-presidente, além do aumento da capacidade de transferência de votos deste último. Quanto à imagem, as pesquisas do instituto IPSOS, que são centradas neste ponto, têm mostrado uma queda da avaliação negativa e uma elevação da avaliação positiva do ex-presidente Lula e um processo exatamente inverso daqueles que melhor representam seus algozes, a saber, o juiz Sérgio Moro e a presidenta do STF, Cármen Lúcia.

Portanto, parece que a estratégia do PT de manter a candidatura do ex-presidente Lula está dando resultados eleitorais positivos. Aqueles à esquerda ou à direita que estiverem à beira de um ataque de nervos terão que arrumar uma forma de se acalmar!

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