Abominável mundo velho

31/10/2018 às 17:51.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:33

Em 1932, o escritor britânico Aldous Huxley publicou seu mais famoso livro “Admirável Mundo Novo”, que trata de um fictício mundo futuro marcado por uma sociedade totalitária formada por pessoas controladas por mensagens subliminares.
A campanha eleitoral para presidente da República e o seu desfecho nos faz lembrar alguns desses aspectos do livro, porém com uma forte pitada de um passado bolorento. Em alguns momentos, uma manipulação sofisticada de tecnologias informacionais para manipulação de mensagens subliminares e o uso de fake news. Em outros, um anacronismo a lembrar o “ancien régime”.

O abominável mundo velho se revelou por completo no discurso da vitória. Na primeira parte, uma inacreditável confusão entre política e religião (nas democracias modernas, o Estado é laico e há sólidas razões para isso). Na segunda parte, a presença de uma linguagem beligerante e embrutecida, de ameaça e intolerância em relação à oposição, além da recorrente estupidez de se ficar falando de “comunistas”.

Aliás, esse é um ponto no qual a manipulação psicológica da campanha eleitoral do hoje presidente eleito foi exemplar. Primeiramente, o regime venezuelano não é comunista nem socialista. Tem-se ali algo muito mais próximo de Estado pretoriano. Em segundo lugar, os 13 anos de governos do PT jamais revelaram quaisquer semelhanças tanto com comunismo quanto com o regime venezuelano.


Os governos petistas sempre se inspiraram na social-democracia dos países da Europa Ocidental. Tanto que vários líderes social-democratas europeus históricos vieram ao Brasil este ano participar de eventos promovidos pelo PT e também foram a Curitiba visitar o ex-presidente Lula. Os governos petistas sempre se espelharam em países como Holanda, Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Sociedades que souberam conjugar de forma virtuosa um estado forte e uma economia de mercado robusta.

Contudo, não foi esse modelo o vencedor do processo eleitoral. O deputado Jair Bolsonaro venceu de forma legítima uma disputa democrática, embora com fortes suspeitas de sérios crimes eleitorais que ainda serão investigados a contento. Todos nós esperamos que respeite as instituições do Estado democrático de direito, abdique do discurso e das práticas violentas e intolerantes e não nos conduza a um abominável mundo velho.

P.S.: O simples fato de o juiz Sérgio Moro ter se considerado honrado com o convite para ser ministro da Justiça feito pelo presidente eleito já é um total descalabro, bem como revelador de sua parcialidade como julgador de processos contra políticos do PT. Com tal disposição, mostrou todo o viés político-partidário que tem contaminado seu ofício. Mais uma evidência que irá alimentar o processo que corre no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

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