(Arquivo Hoje em Dia)
A cada 24 horas, oito crianças e adolescentes com menos de 14 anos são violentados sexualmente em Minas Gerais. De janeiro a julho deste ano, foram 1.468 casos – número quase 25% menor se comparado ao mesmo período de 2019. Em princípio positiva, a redução pode, na verdade, esconder uma dura realidade. Autoridades policiais acreditam que os abusos não cessaram, mas continuam ocorrendo principalmente nos lares, “escondidos” sob a pandemia de Covid-19.
É o que afirma a delegada Elenice Cristine Batista Ferreira, chefe da Divisão Especializada de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad), de Belo Horizonte. A situação é preocupante e potencializa ainda mais o cenário de subnotificação que é característico desse tipo de crime.
Muitas vezes, o estupro só é descoberto quando a vítima engravida, como aconteceu com a menina de 10 anos que era abusada há quatro pelo tio, de 33, no Espírito Santo. O caso ganhou repercussão nacional por conta da polêmica sobre a interrupção da gestação dessa criança, autorizada pela Justiça.
Elenice Cristine destaca que, na maioria das ocorrências, o agressor está no ambiente intrafamiliar do menor violentado, que costuma receber ameaças para não contar sobre os estupros. Alternativa para que ele denuncie é conversando com pessoas de confiança.
Ambientes sociais
Mas, na pandemia, crianças e adolescentes estão sem convívio em escolas e outros ambientes sociais que poderiam dar esse socorro a eles, frisa a delegada. “Não estão tendo acesso ao professor, que pode perceber mudança no comportamento deles e investigar o que está acontecendo”.
“A escola é um ambiente que protege as crianças, onde elas passam a maior parte do tempo durante a semana. Em casa, muitas vezes o abusador está ali. Como a indicação na pandemia é se isolar, elas passaram a ficar mais tempo com essas pessoas, elevando a chance do abuso”, complementa a psiquiatra infantojuvenil Jaqueline Bifano.
Para a especialista, pessoas próximas às vítimas devem estar atentas ao comportamento delas. “Muitas não relatam por medo, falta de intimidade emocional com os pais e temor de que não vão acreditar nelas”, diz.
Foi o que aconteceu com Paula*, de 36 anos, que foi abusada pelo tio aos 12. Na época, ele tinha 19. Há um tempo ela descobriu que o parente também tinha atacado o irmão e outro sobrinho. “Denunciamos, mas toda a família ficou do lado dele”, conta. [AGENCIA](*Nome fictício)