A renegociação do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) pode afetar negativamente as exportações brasileiras para o México, assim como modificar as condições do acordo bilateral que estava sendo rediscutido entre o país e o Brasil. A avaliação é do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
De acordo com o dirigente, o acordo pode atingir, principalmente, a indústria automotiva brasileira e de insumos para o setor, já que o México teria que produzir mais localmente e priorizar o comércio com os Estados Unidos. Cerca de 20% do que o Brasil exporta para o país é nesse setor, entre motores, partes e peças.
O tema foi lançado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que anunciou no início da semana que as negociações para o Nafta estavam sendo conduzidas entre seu país e o México, e que o Canadá pode se juntar posteriormente.
Manufaturados x commodities
Segundo Castro, a participação do México nas exportações totais do Brasil é pequena, de 1,8%. “Mas é um mercado de manufaturados. O problema do Brasil é que temos mercado à vontade para commodities [produtos primários de exportação], mas não tem mercado de manufaturados. Então, temos que fazer de tudo para preservá-los”, explicou.
Até julho deste ano, o total das vendas brasileiras ao exterior chegou a US$ 136,5 bilhões. As vendas de produtos primários subiram 10,6% em relação ao mesmo período de 2017, as de produtos manufaturados aumentaram 6,6%, enquanto as exportações de bens semimanufaturados acumulam queda de 1,4% no ano.
Acordo com México
Além dos prejuízos causados pelo acordo Estados Unidos-México, o Brasil deverá rediscutir o seu próprio acordo com o México, que previa mais abertura de mercado no setor automotivo. “Esse acordo deverá ser rediscutido sob outra ótica, porque não basta querer abrir o mercado, agora há outras condições influenciando”, disse Castro.
O novo acordo para o Nafta ainda será submetido ao congresso dos dois países e a decisão deve sair em cerca de 90 dias. Entre as medidas estão a elevação do conteúdo regional mínimo, de 62,5% para 75%, para a venda de automóveis sem tarifas, e a obrigatoriedade que alguns insumos de aço e alumínio para a indústria automotiva sejam comprados de países da América do Norte.
“Nesse momento, temos apenas que acompanhar. Tudo que está sendo discutido com Estados Unidos e México deverá ser ratificado, mas o próprio Congresso em parte não concorda e pode promover alterações”, explicou Castro.
No último trimestre, o mercado mundial caiu 0,9%, de acordo com o presidente da AEB. “Protecionismo de mercado [como está sendo feito pelos Estados Unidos] significa redução do comércio exterior e menos demanda por insumos. Isso promove a queda na cotação das commodities, que é o grande carro-chefe do Brasil. Vamos ter um impacto negativo em 2018 e 2019 por conta disso”, explicou.