Aftosa gera dúvidas de mercado para pecuaristas da região

Jornal O Norte
18/10/2005 às 11:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:53

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Enquanto o governo se prepara para recunscrever toda a área em que provavelmente o foco da febre aftosa pode estar em Mato Grosso do Sul, os pecuaristas norte-mineiros se preocupam com o que ocorrerá com o mercado exportador.

A expectativa, conforme Júlio Pereira, presidente do Sindicato rural de Montes Claros é que mesmo que o estado do Mato Grosso do Sul esteja bloqueado para exportar sua carne, há a possibilidade de outros estados assumirem o controle da exportação. A esperança é que os estados de São Paulo e Paraná não tenham o produto embargado, para que seja possível contrabalancear a produção.

A medida, se confirmado o foco da febre só nos cinco municípios do Mato Grosso do Sul, faz crescer a expectativa de que o mercado interno receba a carne desossada desse estado, o que supriria este mercado e não prejudicaria as exportações.

Há dez anos Minas Gerais tem registro de área livre da aftosa, o que é uma garantia de auxílio ao mercado externo. Só no Norte de Minas, considerado a maior delegacia acompanhada pelo IMA - Instituto mineiro de agropecuária existem cerca de dois milhões e duzentos e sessenta mil cabeças de gado.

A região do Triângulo Mineiro recebeu aproximadamente 62,574 mil cabeças de gado no ano passado, de acordo com presidente da Associação de gado de corte do Norte de Minas, João Gustavo de Paula. Essa transação resultou numa média de faturamento de R$ 60 milhões para cada produtor.

O delegado do Ima, Humberto Antunes, assegura que não há essa possibilidade até o presente momento, já que os animais receberam a última dose da vacina contra a aftosa no último mês de setembro.




(Foto: Adriano Madureira)

EMBARGO

A carne brasileira já não entra em 32 países, dos quais 25 da União Européia, além da Rússia, Israel, África do Sul, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, que impuseram restrições parciais ou totais ao produto brasileiro.

Os estados vizinhos a Mato Grosso do Sul estão apertando as regras para veículos do estado não ingressarem em seus territórios. No estado de São Paulo, por exemplo, veículos de Mato Grosso do Sul carregados com carne estão sendo orientados a voltar.

João Gustavo disse a O Norte que a Organização internacional de saúde dividiu os estados por distritos. Minas Gerais fica no distrito leste, junto aos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O Mato Grosso do Sul entra no distrito Sudeste, junto a São Paulo, Goiás, Paraná entre outros. Isso, em sua visão, significa que o Norte de Minas e o seu distrito ainda mantêm o título de área livre da febre aftosa e o registro de boi verde.

O presidente do sindicato rural ressalta que o governo está tomando as providências necessárias para que o país, que hoje é o maior exportador de carne do mundo não perca a credibilidade.

Júlio Pereira comenta que o Brasil manda em média dois milhões de toneladas de carne para abate para o exterior.

LULA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva que segue um bom roteiro de viagem pela Europa relatou à imprensa internacional que o que teme nesse momento não é a febre aftosa e, sim, a aviária, que mata o ser humano, o contrário da aftosa, já controlada, segundo ele.

O presidente disse que o Brasil está dialogando de modo transparente com a União Européia sobre o foco de febre aftosa detectado em um município de Mato Grosso do Sul na última semana. Ele lembrou que Brasil tem o compromisso de comunicar aos países qualquer caso dessa natureza.

- Nós mostramos aos portugueses, mostramos aos governantes que participaram do Encontro Ibero-Americano e vamos mostrar para a Rússia que nós tínhamos um foco e que esse foco já foi debelado. Já matamos todas as reses. Já fizemos as barreiras nas fronteiras que era preciso fazer – afirmou o presidente, que seguiu de Roma para Moscou.

De acordo com o presidente, as ações que estão sendo tomadas revelam o compromisso do país de não permitir que o foco se alastre e prejudique a economia brasileira.

- Eu acho que nós vamos mostrar ao mundo a eficácia e a ação do governo no sentido de não permitir que um caso isolado de febre aftosa possa prejudicar o comércio de carne do Brasil com o mundo.

DE QUEM É A CULPA

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci declarou que ao contrário do que estão dizendo não faltou liberação de verba para o setor pecuário. Relatou ainda que todas as exigências feitas pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, quanto ao controle fitossanitário vegetal e animal foram concedidos.

Mas Roberto Rodrigues revelou que havia requerido cerca de R$ 163 milhões, sendo que o governo liberou apenas R$ 40 milhões, insuficiente para conter quaisquer problemas no setor, como está sendo o caso da febre aftosa.

Aqui no Norte de Minas, os pecuaristas aguardam o transcorrer dos fatos e uma posição do governo federal quanto ao mercado exportador da carne brasileira. Júlio Pereira conclui falando que de seis em seis meses o IMA faz a vacinação dos animais da região e por isso mesmo acredita ser mais difícil a febre chegar ao Norte de Minas.

- Estamos atentos ao mercado, mas precisamos de garantias do governo.

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