Agilidade e conhecimento evitam morte de crianças por engasgo

Publicado em 14/09/2024 às 06:00.

Maria Inês Vasconcelos*

Os cuidados com crianças são uma tarefa bastante desafiadora, gerando preocupação devido a diversos fatores e dificuldades. Um dos grandes receios está na chance de os pequenos engasgarem, um problema relativamente frequente. O Ministério da Saúde aponta que 923 crianças, com até quatro anos, morreram devido a engasgamento, desde 2020 a fevereiro deste ano. Apenas durante os dois primeiros meses de 2024, foram 18 óbitos e, em 2023, foram 319.

O engasgo é a tentativa do organismo de eliminar o alimento ou objeto que entra no caminho errado durante o ato de engolir. Normalmente, acontece devido à falta de mastigação adequada, problemas de deglutição, refluxo gastroesofágico ou em casos de objetos estranhos, como brinquedos pequenos e médios, que são colocados na boca e não podemos deixar de lado, a pipoca e o balão de festa de aniversário.

O problema pode se originar de um reflexo muscular resultado do esforço feito pelo organismo, a tosse, contudo, existe ainda, a possibilidade de ocorrer uma aspiração durante o engasgo, ou seja, momento em que a vítima respira, enquanto se alimenta ou ingere algum líquido, fazendo o alimento entrar nas vias respiratórias e causar falta de ar.

Os engasgos são bastante comuns em bebês e crianças mais novas. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estima que mais de 50% das ocorrências envolvem crianças menores de 4 anos e até 94%, antes dos 7 anos, principalmente entre meninos. A situação assusta os familiares, afinal, muitas vezes, não sabem como agir e recorrem à ajuda de vizinhos e profissionais para o salvamento. A situação causa pânico . É desesperador.

A gravidade da situação faz com que esse tema seja recorrente em agendas de cuidados com a criança, já que as taxas não diminuem. Os números alarmantes nos fazem pensar na necessidade de partir, enfaticamente, para campanhas educativas para salvar mais crianças.

A Manobra de Heimlich é um dos métodos muito usados para salvar crianças, mas a grande maioria das pessoas não conhece e nem sabe aplicá-la adequadamente, o que pode provocar fraturas ósseas e danos em órgãos internos.

Em caso de desconhecimento ou realização da manobra sem efeito, é preciso continuar agindo rapidamente, para evitar que a vítima sofra lesões neurológicas pela falta de oxigenação. É importante encontrar ajuda especializada em hospital, SAMU (192), polícia ou corpo de bombeiros e seguir as orientações.

A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros são responsáveis por muitos dos atendimentos. As estatísticas do ano passado revelam que os profissionais foram responsáveis por atender até dois bebês engasgados por dia no Brasil.

Os pais precisam estar atentos aos sinais. Além da falta de ar, as crianças engasgadas apresentam uma respiração ruidosa, chiado, tosse, incapacidade ou dificuldade para falar, lábios roxos, agitação, incômodos no peito e até colocam as mãos ao redor do pescoço.

Outro alerta está no tipo de alimentos e objetos que mais provocam engasgos e a faixa etária. Segundo a SBP, os alimentos de forma circular, por exemplo, uva, milho, feijão, castanhas e nozes, pipoca e balas, são mais perigosos até os 3 anos, quando os pequenos ainda não possuem tanto controle sobre a mastigação e faltam os dentes molares. Também é preciso cuidado com as tampas de caneta, esferas, moedas e brinquedos, estando atento às recomendações do fabricante e às ações da criança.

O engasgo não deve ser visto como algo normal, apenas por ser recorrente. Aprender a manobra de Heimlich salva vidas e o Instituto Plante está apoiando a campanha de conscientização da população sobre engasgos e prevenção. O instituto promove programas e projetos inovadores, estabelecendo parcerias para transformar o trabalho em elemento de reconstrução da personalidade e promoção da cidadania.

* Advogada trabalhista, psicóloga, doutora em educação, pesquisadora e fundadora do Instituto Plante

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