(Agência Brasil)
Como são onze candidatos a prefeito em Belo Horizonte, logicamente temos o mesmo número de candidatos a vice. Alguns com mais desenvoltura e outros mais figurativos. Mas como a campanha acontece concomitantemente ao processo de impeachment da presidente Dilma, e da posse interina de seu vice, Michel Temer, alguma luz está sendo colocada sobre os companheiros dos candidatos a prefeito, que responderão pelo cargo numa possível ausência do cabeça de chapa.
Há políticos experientes, como é o caso de Ronaldo Gontijo (PPS), vereador há seis mandatos, e de empresários que nunca se candidataram, como Wallace Brandão (Pros).
No caso de Gontijo, vice de João Leite (PSDB), a interlocução entre os poderes Executivo e Legislativo está entre suas prioridades. Conhecedor da Câmara, ele se dispõe a atuar como um articulador.
“Quando o vice tem alguma experiência política ele contribui muito. Mas é óbvio que não pode ter a pretensão de ocupar cargos maiores, como a própria prefeitura”, afirma. Professor e fisioterapeuta, Gontijo também pretende atuar nas áreas de saúde e educação.
PRIMEIRA VEZ
Na outra ponta está Wallace Brandão, que inicialmente tinha a intenção de ser candidato a vereador. Formado em administração, o empresário é executivo da marca de cosméticos Hinode, que utiliza o sistema de marketing multinível (ou marketing de rede, onde os ganhos vem da venda de produtos e do recrutamento de novos vendedores), e que está chegando ao Brasil.
Especialista em gestão de pessoas, ele acredita que pode utilizar a habilidade profissional para conversar com públicos diversos.
“O que nos dá tranquilidade é que não somos um partido de direita ou de esquerda. Temos abertura para todos. O diálogo será constante”, destaca.
O professor de Ciência Política da UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Legislativo (CEL), Lucas Cunha, afirma que o vice funciona, muitas vezes, como uma válvula de escape do prefeito. Ou seja, para não desgastar a imagem do protagonista na gestão.
POLÊMICA
Para Paulo Lamac (Rede), candidato a vice na chapa de Alexandre Kalil (PHS), não existe este tipo de preocupação. “O Kalil tem uma característica muito peculiar. Não é do perfil dele fugir de polêmicas. Ele enfrenta com firmeza”, afirma.
Professor e engenheiro, Lamac sustentou a candidatura própria até as vésperas do registro da chapa. Ele acredita que o posto de vice ganhou mesmo força na atual conjuntura. Vale lembrar que todo o país tem os olhos voltados agora para o vice. “Pela conjuntura atual, tem que ser uma pessoa preparada para assumir em eventualidades. Tem que ser uma pessoa com bagagem para administrar um município”, ressalta.
Ação intersetorial
Formado em administração, Josué Valadão (PSB), candidato a vice de Délio Malheiros (PSD), afirma que vai aproveitar a experiência adquirida como secretário de governo da Prefeitura de Belo Horizonte para auxiliar o prefeito na linha de comando, caso a chapa seja eleita.
“Na secretaria de governo trabalhei com ações intersetoriais, integradas, durante um longo período. É o que sei fazer e o que gosto de fazer”, diz Valadão.
Atualmente, ele é secretário de Obras da PBH. “Também possuo amplo conhecimento sobre o assunto e sei que posso contribuir muito”, afirma.
Na avaliação do candidato, a harmonia entre o prefeito e o vice são fundamentais para uma boa gestão. “Estou ao lado de Délio há três anos e meio. Temos afinidades”, complementa.
Candidatos têm que deixar para trás estigma de ‘papel decorativo’
Precisou que um furacão político e econômico atravessasse o país, afastando a presidente Dilma Rousseff (PT) do poder e empossando interinamente Michel Temer (PMDB), para que o posto de vice fosse colocado em evidência.
Agora, a poucas semanas das eleições municipais, as coligações partidárias tentam eliminar o estigma de papel secundário que os vices têm, aproximando-os da população e pregando a “gestão compartilhada”. O esforço é válido.
No entanto, para o professor de Ciência Política da UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Legislativo (CEL), Lucas Cunha, cabe ao eleitor conhecer de perto os dois candidatos da chapa em que vota.
Ele ressalta que o sistema político brasileiro não privilegia o candidato a vice, seja ele a governador, presidente ou prefeito. “Nas eleições de 2014, por exemplo, Michel Temer pouco aparecia nas peças publicitárias, ao passo que Marco Maciel assumiu a Presidência diversas vezes, e tomou decisões importantes durante viagens de Fernando Henrique Cardoso. O mesmo aconteceu com José Alencar no governo do presidente Lula”,avalia.
O pesquisador destaca que, na corrida eleitoral para a prefeitura, as chapas são compostas, muitas vezes, visando tempos de mídia maiores, bons repasses do Fundo Partidário Nacional e nomes de peso.
O objetivo é aumentar a visibilidade dos candidatos, principalmente após a mudança das regras eleitorais, que reduziu o tempo de campanha e proibiu as doações de empresas aos candidatos e partidos.
“Nesta eleição, que está muito pulverizada, foi ainda mais difícil fechar alianças”, reitera o pesquisador.
Depois de vencida a eleição e tomada posse, no entanto, a situação muda completamente. O vice perde a exposição na mídia, mas não abandona o posto. É ele quem assume o cargo sempre que o prefeito precisa se ausentar seja por viagem, doença, férias ou outro motivo.
Neste período, o companheiro de chapa do prefeito tem poder integral. Ele pode sancionar leis, editar decretos, enviar projetos ao Legislativo e tomar decisões em nome do município.
“São pessoas que podem, sim, decidir pela cidade em nome do prefeito. Por isso, é tão importante conhecer bem o vice”, alerta Lucas Cunha.
Editoria de Arte