Vai dar ‘namoro’?

Aliança entre Zema e Bolsonaro esbarra em construção de base na Assembleia

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
Publicado em 04/10/2022 às 08:00.
 (Alan Santos/PR)

(Alan Santos/PR)

Assim que o primeiro turno das eleições terminaram, o governador Romeu Zema (Novo) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) começaram um namoro e troca de declarações que indicam uma aliança para o segundo turno. Mas, para o cientista político Oswaldo Dehon, entre as declarações de apoio e o engajamento real do governador na campanha de Bolsonaro existe um leque grande de condicionantes.

 “Dizer que apoia e não fazer campanha, não mobilizar a base, os deputados próximos ou prefeitos ligados para que apoiem Bolsonaro, há uma grande diferença. Ele pode dizer que apoia e não fazer campanha. É uma possibilidade que já aconteceu. Ele pode dizer que apoia, mas aparecer de forma discreta ou não aparecer. Pode pedir que alguns atores políticos apoiem, mas manter a distância com o intuito de não comprometer o Estado com uma eventual vitória de Lula”, avalia.

Nesta segunda-feira (3), Zema declarou que deve anunciar sua posição nos próximos dias e surgiu a possibilidade de uma viagem do governador para se encontrar com Bolsonaro e negociar as bases desse apoio. O encontro ainda não consta das agendas oficiais nem do governador nem do presidente, mas pode acontecer ainda nesta terça-feira (4).

De acordo com Oswaldo Dehon, o principal risco que deve ser considerado por Zema ao engajar na campanha bolsonarista é a construção da base na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Hoje, os dois partidos com maior bancada na ALMG são a federação liderada pelo PT, com 17 deputados, e o PL do presidente Jair Bolsonaro, com nove deputados. Para o professor, assumir a vinculação com Bolsonaro aumentaria a resistência de partidos que fazem oposição ao presidente em negociar com o governo estadual.

Outra questão que o professor indica como dificultador é a dependência do governo do Estado com o governo federal e que, considerando o resultado das urnas e o histórico de votação petista em Minas, hoje Lula é o favorito.

“Um engajamento maior de Zema com Bolsonaro criaria dificuldades em duas faces. Primeiro ele teria já uma bancada contrária a ele; depois ele poderia ser surpreendido com uma vitória de Lula. Zema depende das negociações com o governo federal para avançar no Regime de Recuperação Fiscal e negociações de dívidas e ser surpreendido com uma vitória de Lula pode dificultar essa negociação”, afirma Dehon.

Zemismo
O professor destaca que Romeu Zema é um governador vitorioso em um partido derrotado. “O partido está derrotado. O partido não fez deputados federais; não ampliou sua base na Assembleia, perdeu deputados importantes. Então a gente pode estar vendo o surgimento de um ‘zemismo’. É um líder muito maior do que o Novo e isso pode fazer dele um político mais comedido do que o bolsonarismo espera”.
 
Teste de fogo
O professor destaca também que será o maior teste para Zema como cabo eleitoral para ver se, em caso de adesão à campanha bolsonarista, o governador conseguirá transferir votos para o presidente.

“Zema até hoje foi um grande cabo eleitoral de si mesmo. Mas foi pouco testado ao transferir votos. Nas eleições de 2020 ele decidiu não entrar nas campanhas de prefeitos. Foi derrotado em Araxá, não conseguiu colocar o candidato do Novo em Belo Horizonte no segundo turno”, lembra.

Bolsozema
Com mais de 56% dos votos válidos nas eleições deste ano, Zema chegou a dizer nesta segunda-feira (3) que o eventual apoio ao presidente Jair Bolsonaro irá ocorrer em breve. “Amanhã ou depois devemos anunciar o apoio ao presidente”, disse Zema, em entrevista à Globonews. Ele reforçou que no domingo a “dobradinha” já havia ocorrido. “Tivemos muitos votos bolsozema”.

O governador fez questão de criticar o Partido dos Trabalhadores e afastar qualquer tipo de aliança para eleger Lula. “Sabemos que a gestão PT irá trazer problemas seríssimos”, e acrescentou: “nós vimos o desastre do governo do PT em Minas”.

“Apoiar o PT, de maneira alguma. Lembro que o PT destruiu Minas Gerais. O mineiro, principalmente de cidades que foram geridas por petistas, está vacinado contra o partido”, declarou Zema.

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