(MAURÍCIO VIEIRA)
“Já substituí a marca de arroz que eu utilizava e dei uma diminuída no consumo de carne bovina. Agora, estou usando mais linguiça e fazendo uns omeletes turbinados com queijo, senão ninguém aguenta”, o desabafo da autônoma Ana Cláudia Martins de Matos, que produz pães artesanais, é o de milhares de brasileiros que vêm sofrendo com aumento de preços dos alimentos, que já acumulam alta de 12,7% nos últimos 12 meses, quase três vezes o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), que no mesmo período atingiu 4,54%, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgados ontem.
No mês passado, os alimentos da cesta básica foram de novo os grandes vilões para as famílias brasileiras de baixa renda. Segundo a pesquisa, o IPC-C1, que mede a inflação para as pessoas com ganhos de até 2,5 salários mínimos, registrou alta de 0,89%, 0,34 ponto percentual superior ao índice apurado em agosto, quando atingiu 0,55%.
Além da alimentação (2,23%), outras duas das oito classes de despesas que compõem o índice registraram acréscimo em setembro: a educação, leitura e recreação (2,44%) e vestuário (0,12%). As maiores pressões de alta vieram dos itens arroz, feijão e óleo, além de passagem aérea e roupas.
Só óleo de soja teve aumento de 30%, seguido pelo arroz (15,41%), frango inteiro (5,12%), carne bovina (3,26%) e feijão preto (2,12%). Segundo o economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, André Braz, os aumentos se devem à majoração de preços de algumas commodities no mercado internacional, como soja, trigo e milho; ampliação das exportações de produtos como carnes de boi de frango para a China, o que pressiona os preços no mercado interno, além de problemas sazonais de alguns produtos.
“Por todos esses percalços, a alimentação ficou muito mais cara no momento que a baixa renda enfrenta um desemprego maior. A sensação é que a inflação é mais alta, com mais desemprego, queda na renda e preços em alta. A sensação do custo tende a ser muito maior”, explica o economista da FGV.
Segundo André Braz, para tentar driblar esses aumentos de preços, o consumidor deve buscar as ofertas, acompanhar as promoções semanais no comércio e substituir os produtos mais caros por outros com preços mais em conta.
“A grande arma do consumidor é reduzir um pouco a compra daqueles produtos que estão com preço alto. Se diminuir o consumo de arroz, não faz diferença para uma família, mas se todos fizerem isso, vai sobrar arroz no mercado e é possível que os preços caiam”, exemplifica, lembrando que o consumidor tem uma grande influência nos preços no mercado, desde que exerçam seus direitos.
É o que tem feito Ana Cláudia, que tem dois filhos para sustentar. “As pessoas estão descapitalizadas. Há muito tempo já dei uma diminuída no consumo de carne bovina e, mesmo com um aumento no preço da carne de frango, é mais democrático para cozinhar. Dá para fazer frito, assado no estrogonofe. As pessoas não podem perder a esperança”, afirma.
EDITORIA DE ARTE