Alta do dólar não diversifica exportação

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
12/03/2016 às 07:28.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:46

Neste mês, o dólar completa um ano cotado acima de R$ 3. E desde setembro do ano passado, a moeda norte-americana flerta com o nível de R$ 4 – apesar do leve recuo nos últimos dias com as notícias negativas que atingem o Planalto. Desejo antigo de grande parte das indústrias finalmente realizado, a depreciação do real, entretanto, ainda não surtiu o efeito esperado.

A diminuição do apetite chinês, a velha concentração da pauta mineira de exportações, a queda dos preços das commodities, a inflação e o aumento dos custos de produção são entraves para que as fábricas do Estado possam vender para fora do país.

“Não há milagre e o dólar alto ainda não fez seu papel. De fato, de nada adianta a cotação subir para um patamar forte se o mercado está fraco. Além disso, a melhora das exportações não é instantânea. É um processo que leva de seis meses a um ano, pelo menos”, diz o consultor de negócios internacionais da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito.

Segundo ele, em janeiro deste ano, as vendas mineiras para o exterior totalizaram US$ 1,29 bilhão, quase US$ 700 milhões a menos na comparação com igual mês de 2015. Por outro lado, em peso, o volume aumentou pouco mais de 1%, na mesma base de comparação.

Cenário externo

“As exportações perderam um terço do valor por quilo. Isso mostra a desvalorização das nossas mercadorias, principalmente minério e café, dupla carro-chefe da economia mineira. Vendemos mais em peso, mas faturamos menos, mesmo com o dólar favorável”, diz.

Para o coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec em Minas, Reginaldo Nogueira, a desvalorização do real frente à moeda norte-americana ajuda no momento econômico ruim, mas não é a salvação da lavoura.

“A inserção da indústria lá fora depende da demanda. E é importante lembrar que a economia da China, que é a grande compradora e primeira parceira comercial de Minas, vem em trajetória de desaceleração. A taxa de crescimento, que chegou a 10% ao ano, atualmente é de 6%. E isso faz diferença”, destaca.

Alta de custos

Outro fator que atrapalha os planos dos exportadores é a fúria do dragão. “Com a inflação alta, em torno de 11%, nem toda desvalorização se transforma em ganho de competitividade. Parte dela é comida pelo aumento dos gastos”, afirma Nogueira. Ainda complicam a vida das empresas exportadoras a burocracia, o custo logístico e a infraestrutura deficitária.
 
Real fraco blinda a indústria contra a concorrência chinesa

Após atingir o fundo do poço, com queda de 4% em 2015 e franco processo de desindustrialização, o setor têxtil enxerga no câmbio uma luz no fim do túnel. Com o empurrão do dólar alto, o faturamento deve voltar ao nível de 2014 graças à alta das exportações e recuo das importações.

“O maior benefício é a proteção que o câmbio nos dá contra os produtos chineses”, diz o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis de Malhas de Minas Gerais (Sindimalhas-MG), Flávio Roscoe. A virada do câmbio também deu novo fôlego às vendas internacionais da Forno de Minas. “Já tínhamos uma política de exportação, voltada para o brasileiro que mora em outros países. Agora o objetivo é conquistar o paladar estrangeiro. Mas é preciso que o dólar permaneça neste patamar”, diz o presidente da empresa, Helder Mendonça. No ano passado, 7% da produção de pão de queijo teve o exterior como destino. Para 2016, o percentual deve passar de 10%. Até 2020, o intuito é chegar a 20%.

Na Clamper, indústria de dispositivos elétricos, a expectativa é dobrar os embarques internacionais em 2016, ante 2015. “Antes, quando o dólar não estava tão valorizado, a fatia não chegava a 10%”, diz o presidente da Clamper, Ailton Ricaldoni.

 

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