Altas seguidas em combustíveis impactam cada vez mais motoristas de app

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
18/02/2021 às 21:08.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:12
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Vilões da inflação em 2021, os combustíveis terão mais uma alta nesta sexta-feira, informou ontem a Petrobras. A gasolina sobe pela quarta vez no ano: R$ 0,23 nas refinarias, chegando a R$ 2,48, o litro. O reflexo nas bombas é previsto para os próximos dias. No acumulado de janeiro e fevereiro, já são 34,78% de correção. O diesel terá ajuste de R$ 0,34, com preço final de R$ 2,58, o litro, e 27,72% de elevação em menos de dois meses.

O etanol, que, puxado pelas altas da gasolina, encareceu quase 5% entre janeiro e fevereiro na capital, segundo o site de pesquisas Mercado Mineiro, não tem reajustes “oficiais” previstos, mas deve ter o preço aumentado em razão de uma esperada maior procura pelo combustível por donos de veículos flex – ante o novo reajuste da gasolina. 

Neste cenário de subida contínua de preços, que tende a ter impacto generalizado no custo de vida da população – o diesel, por exemplo, é o principal insumo para transporte de mercadorias –, categorias como a dos motoristas de aplicativo de transporte de passageiros sofrem consequências de maneira bem mais automática.

“Tenho pensado até em parar de trabalhar com passageiros porque, diante desses aumentos todos, não apenas da gasolina, mas de outros insumos, como peças e pneus, e as tarifas das plataformas cada vez mais baixas devido à queda no número de viagens e à alta concorrência, as perdas são desanimadoras”, diz o ex-instrutor de autoescola Jonathan Pena, de 40 anos.

Rodando há quatro anos como profissional de aplicativos, ele conta que, há menos de dois, tirava R$ 4 mil por mês, trabalhando 12 horas por dia nas ruas de BH. “Hoje, com a mesma jornada e os custos do jeito que estão, comemoro bastante quando tiro R$ 2.500”, ressalta.

Já para o engenheiro civil Lucas Gonzaga, de 28 anos, que atua direto como motorista de app na capital desde que perdeu o emprego, em agosto, ainda não é hora de desistir. “Tenho feito muito mais horas ao volante do que no início, o que tem compensado um pouco essa elevação nos insumos”, afirma ele. Gonzaga lamenta, contudo, a voracidade do preço dos combustíveis no faturamento: “A gasolina ou o etanol consome, hoje, de 30% a 40% do que ganho em um dia de trabalho de 12 horas ou mais”.

A tendência é de que na próxima semana os novos aumentos da Petrobras reflitam nas bombas. Segundo o economista Feliciano Abreu, do Mercado Mineiro, será difícil encontrar o litro a menos de R$ 5 nos postos da Grande BH. Na última pesquisa sobre combustíveis feita pelo site na cidade, o preço médio da gasolina, por exemplo, era de R$ 4,86. Mas isso foi antes de um terceiro aumento, há poucos dias, e do de hoje.

“Ainda temos a barreira psicológica dos R$ 5, mas, na hora que um só posto a ultrapassar (o que deve acontecer a partir da semana que vem), deve ocorrer um efeito manada”, diz Abreu. Para o economista, no caso específico dos motoristas de aplicativos, é grande a probabilidade de que muitos, simplesmente, parem de rodar, em razão da alta nos custos. “Por outro lado, se as empresas elevam as tarifas e a remuneração deles, pode ser que caia ainda mais o número de passageiros”, frisa.

 Categoria se diz revoltada com subida de preços de insumos e estuda alternativas
 

O presidente do Clube dos Motoristas de Aplicativos e da Associação de Prestadores de Serviços por Aplicativos em Minas Gerais (Appec-MG), Warley Leite, diz que a indignação da categoria cresce a cada dia, seja com o Poder Público e com a Petrobras ou com algumas operadoras. Essas, segundo ele, mantêm as tarifas baixas, para não perder clientes em um cenário de baixa procura e alta concorrência, mas não deixam de elevar o percentual cobrado dos condutores a cada viagem.

“Estamos totalmente revoltados com a Petrobras e com o governo pela alta. Porque num momento de pandemia onde nossa demanda está em mais de 60% inferior à habitual, a gente está sofrendo esse impacto de 10%, desde o início do ano, de alta dos combustíveis, sem falar em outros insumos”, afirma Leite. “Some-se a isso que enfrentamos já quatro anos seguidos de baixa das tarifas e subida de cobranças pelas plataformas”, destaca.

Hoje, só na Grande BH, segundo ele, estima-se que haja ao menos 90 mil motoristas de apps ativos, ante 75 mil há três anos. O crescimento refletiria, claro, os efeitos da pandemia, que fez subir o desemprego. Mas a tendência, se a alta dos combustíveis continuar e as atividades econômicas não voltarem a ser como antes, é de queda brutal nesse contingente. “O índice de desistência vem crescendo desde o ano passado e pode se multiplicar com esses reajustes da gasolina e do etanol”, diz.

Como alternativa, tanto Leite quanto o presidente da Associação Mineira do Gás Natural Veicular, Juliano Pires, lutam por maior estímulo do governo estadual ao GNV como forma de melhorar a situação dos motoristas de apps. “Medidas como a redução de IPVA para carros com GNV e do ICMS do produto, além da desburocratização da conversão, nos ajudariam bastante”, diz Pires.

  

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