O corpo do produtor musical, diretor e ator Luiz Carlos Miele foi enterrado na tarde desta quinta-feira, 15, no Cemitério do Caju, na zona norte do Rio. Mais cedo, parentes, amigos e admiradores estiveram no velório, na Câmara de Vereadores, no centro. Miele morreu na manhã de quarta-feira no escritório de sua casa, em São Conrado (zona sul). Tinha 77 anos. A presença do cantor Roberto Carlos, que teve shows produzidos por Miele, causou alvoroço no velório. Ele permaneceu 30 minutos no local, abraçou e amparou a viúva, Anita, e a irmã do artista, Eliane Miele.
"Ele (Miele) foi muito importante na minha carreira. O meu primeiro show com grande produção, grande orquestra, foi ele quem produziu", afirmou, em referência à sua primeira temporada no Canecão, em 1970. "Foi uma coisa muito importante para mim fazer aquele show. E ele acreditou."
Roberto disse que Miele continuou em sua produção, com o Ronaldo Bôscoli, o que os aproximou ainda mais. "Fizemos muitos trabalhos juntos. E agora, esses 11 anos no navio ("Emoções em Alto Mar", projeto em que Roberto canta em um cruzeiro). Vou sentir muita falta. Foi um grande amigo, um grande cara", disse.
Muito abalada, Anita Miele preferiu não falar com os jornalistas. Casada havia 50 anos com o produtor, chegou amparada por amigos, chorando muito. Permaneceu junto ao caixão durante as quatro horas em que esteve no velório, abrindo e fechando os olhos do marido e ajeitando as flores brancas que encobriam seu smoking . O cineasta Luiz Carlos Barreto, ao deixar o velório, brincou, dizendo que o amigo estava vestido a rigor, para "encontrar os amigos que estão lá". "A morte dele é parte do espetáculo", disse Barreto.
O ator Lúcio Mauro Filho afirmou ter convidado Miele para cantar em seu show de bossa nova, com o compositor Celso Fonseca, no Teatro Café Pequeno, no Leblon, zona sul, no próximo fim de semana. A presença do produtor dará lugar a uma homenagem. A música "Somewhere Over the Rainbow" servirá de trilha sonora. É a canção mais conhecida de "O Mágico de Oz", musical de 2012 de Charles Moeller e Claudio Botelho, em que Lúcio interpretou o Leão e Miele, o personagem-título.
A atriz Fernanda Torres afirmou que o amigo "viveu até o talo sem que Deus cobrasse a conta". "Diversas passagens do meu livro ("Fim", editado pela Companhia das Letras), eu devo a ele. Virou um parceiro. Ele, como um todo, foi marcante. Cresci vendo o Miele e depois ele me deu essa chance de ser amiga dele. Eu também acho que Deus não chateou ele", brincou Fernanda.
O cantor e compositor Simoninha, filho de Wilson Simonal, amigo de Miele, também compareceu ao velório. Ele definiu o produtor como "um gênio". "A gente está triste, mas ao mesmo tempo acho que ele não ficaria feliz se visse a gente triste. A gente tem que celebrar a vida e a obra dele", afirmou.
O ator Antonio Pitanga recordou que o amigo, além dos palcos, dominava as quatro linhas. Miele, que jogou nas categorias de base do Palmeiras nos anos 50, virou torcedor do Fluminense ao chegar no Rio, em 1959. Ele trocou as chuteiras pelos microfones das rádios, onde iniciou a carreira artística como locutor. "Ele foi o único no mundo que jogava bola com uma bombinha, porque era asmático. Miele foi o anfitrião da bossa nova. Um fazedor de amigos", disse Pitanga.
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