(CEMIG/DIVULGAÇÃO)
Depois de muita especulação, a Andrade Gutierrez Energia (AGE) está, oficialmente, de saída do grupo de controle da Cemig. Em comunicado ao mercado enviado pela estatal mineira, a AGE informa que encerrou o contrato de acionistas e que “está apta, a partir da presente data, para negociar suas ações da Cemig em bolsa de valores e/ou mercado de balcão”. A AGE detém 20% das ações ordinárias (com direito a voto) da concessionária e, segundo especialistas, receberá cerca de R$ 1 bilhão pelas ações. O Banco Clássico é cotado para comprar a fatia.
A Cemig não deve ser afetada negativamente pela saída da AGE. Pelo contrário. O envolvimento da Andrade Gutierrez na “Lava Jato” pesava contra a estatal mineira. Segundo fontes de bastidores, aliás, a AGE sequer se envolvia nas decisões da companhia.
A saída da Andrade Gutierrez pode ter sido motivada, justamente, pela redução do caixa do grupo, envolvido em esquemas de corrupção, conforme avalia o analista de utilities da Lopes Filho Associados, Alexandre Montes. Para ressarcir o prejuízo da Petrobras, foi feito um acordo com a Procuradoria-Geral da República e ficou determinado que o conglomerado devolveria R$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Receita em queda
“A receita da empresa está despencando. Ela não tem a mesma facilidade que tinha no passado para fechar contratos. Por isso, ela precisa de dinheiro. Para a Cemig isso não afeta em nada. É uma oferta secundária, não primária”, diz o analista.
Para Montes, a Cemig precisa focar todos os esforços na redução da dívida, que chega a R$ 12,5 bilhões, com vencimento até 2024. O montante é maior do que o valor de mercado da estatal, de R$ 10,6 bilhões. Para piorar o cenário, a alavancagem da Cemig (razão da dívida líquida pela lajida), que mostra a capacidade da empresa de honrar os compromissos junto aos bancos, chegou a 3,98 vezes no segundo trimestre. No primeiro trimestre, era 4,21 vezes. Isso significa que a dívida é 3,98 vezes maior do que a geração de caixa.
O número é altíssimo e possivelmente tem atrapalhado a estatal na hora de pegar empréstimos. “A companhia precisa, primeiro, se acertar financeiramente. E, só depois, pensar em aumentar a capacidade de geração”, afirma Montes.
A Cemig tem recorrido a bancos privados e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para tentar crédito. A estatal precisa de R$ 11 bilhões para negociar junto ao governo Federal a manutenção das usinas de Jaguara, Miranda e São Simão, a maior da energética. Juntas, elas representam 36,6% da geração energética da empresa.
Inicialmente, o BNDES tentou criar um Fundo de Participações de Investimentos (FPI) para ajudar a Cemig. Como o leilão das usinas está marcado para 27 de setembro, a negociação teria que sair antes. Portanto, não haveria tempo hábil. A Cemig se encontrou com representantes do banco até a última quarta-feira para achar uma solução. No mesmo dia, no entanto, o Tribunal de Contas da União (TCU) proibiu que as negociações fossem adiante. De acordo com a decisão, as conversas poderiam atrapalhar o leilão.
Cemig e Andrade Gutierrez não quiseram se posicionar. O Banco Clássico não foi encontrado para comentar o assunto.