(Frederico Haikal)
Depois de terem sido inaugurados 31 hotéis entre 2012 e junho de 2014, Belo Horizonte se destaca por tentar se desfazer dos imóveis que abrigaram importantes empreendimentos da cidade, mas sem sucesso. Segundo levantamento realizado pelo Hoje em Dia, pelo menos seis prédios estão à venda.
Alguns, como o que sediava o tradicional Del Rey, localizado no Centro da capital mineira, já deram abrigo a um público conceituado, como o ex-presidente Itamar Franco e o balé russo Bolshoi. E estão à venda há anos. O preço assusta e chega a afastar o investidor, segundo especialistas. Fechado há mais de uma década, o próprio Del Rey está anunciado por R$ 30 milhões.
Na avaliação do consultor de desenvolvimento de novos hotéis e sócio da JR & MvS Consultores, Maarten Van Sluys, o prédio, que pertence à família do falecido Antônio Luciano Pereira Filho, deve valer cerca de R$ 20 milhões. “É um prédio fechado há muitos anos, que necessita de enormes reformas”, afirma.
Com 23 andares e cinco elevadores, o imóvel possui mais de 200 suítes e está localizado na esquina da avenida Augusto de Lima com rua Goiás. O prédio, que foi palco de grandes eventos, possui 11.890 metros quadrados de área construída.
Também no Centro, está à venda o edifício onde funcionou no passado o Internacional Plaza Palace. O anúncio na internet diz que o proprietário pede R$ 25 milhões pelo imóvel. Fechado há alguns anos, a edificação possui 96 apartamentos, divididos em 14 andares. São 40 vagas de garagem.
Para Sluys, as más condições em que o imóvel se encontra também não condizem com o valor pedido. “Dificilmente ele será vendido por este preço, mas o ponto, assim como o do Del Rey, é interessante e, portanto, o imóvel deve receber propostas com valores menores”, avalia.
Outros imóveis que integram a lista estão localizados na avenida Contorno, no bairro Floresta. São dois prédios vizinhos. O primeiro, anunciado por R$ 18,2 milhões, possui 48 apartamentos divididos em 15 andares, com 40 vagas de garagem. O segundo, com 11 andares, 66 apartamentos e dois andares de garagem, foi anunciado por R$ 16 milhões.
Apesar de os preços serem bem inferiores aos demais, os imóveis não atraem compradores e estão à venda há pelo menos dois anos.
Localizado na rua da Bahia, o Sol é o único hotel em funcionamento à venda. No anúncio, o proprietário pede R$ 60 milhões. Para Dilson Cosme Ramos, sócio do SanFrancisco Flat, o preço está salgado.
“Se fizermos as contas, cada apartamento sai por mais de R$ 680 mil”. Segundo uma pessoa ligada às negociações, o dono do local já teria recebido uma proposta com preço inferior, mas teria recusado. Os proprietários dos imóveis não foram encontrados para falar sobre o assunto.
Hotel de Veraneio é o mais atrativo
Dos hotéis anunciados nos sites imobiliários, o que tem mais possibilidade de ser comercializado, segundo os especialistas consultados pela reportagem, é o Hotel Taquaril, ofertado por R$ 6 milhões. O motivo é o perfil do imóvel, que é voltado para veraneio.
De acordo com a proprietária, Mirlaine Machado Torres, o empreendimento, que está fechado, possui estrutura de lazer completa e está apto para ser reaberto.
O faturamento, segundo ela, cobre os custos e garante bom lucro. Porém, um problema de saúde impede que a empresária continue tocando a empresa.
Após lançamentos, mercado está sem espaço para novos projetos
Se vendidos, dificilmente os prédios que abrigaram hotéis no passado voltarão a ser empreendimentos hoteleiros. A expectativa é a de que eles sejam transformados em imóveis comerciais ou até residenciais.
O motivo é simples. Criada pela Prefeitura de BH em 2010, a Lei 9.952 ampliou o potencial de aproveitamento dos terrenos de hotéis. Ou seja, permitiu que empreendimentos maiores fossem construídos, atraindo, inclusive, redes internacionais.
Como reflexo, a taxa de ocupação dos estabelecimentos da cidade, que antes girava em 70%, caiu para entre 55% e 60% em 2014, quando 31 novos empreendimentos chegaram à cidade.
De acordo com a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas(ABIH-MG), Patrícia Coutinho, o poder privado fez a sua parte. A expectativa, agora, é a de que o Estado e a PBH coloquem em prática o que foi prometido ao setor para ampliar a taxa de ocupação. Como exemplo, ela cita a construção do Expominas II, cujo edital foi publicado na semana passada.
“Uma área na Cristiano Machado também deve ser transformada em espaço de eventos. Só o que temos hoje não é suficiente. Tanto que as agendas do Minascentro e do Expominas estão lotadas para o próximo ano”.
De acordo com o vice-presidente do Convention & Visitors Bureau de Belo Horizonte, Alexander Borges, a oferta expressiva dos quartos de hotel, que somam 13.771, segundo a JR & MvS Consultores, impede que novos empreendimentos entrem no mercado. “Os existentes já são suficientes”, garante.
E, para quem já está no mercado, é necessário se manter. O custo para isso, porém, é alto. O sócio do SanFrancisco Flat, Dilson Ramos, investiu R$ 7 milhões nos últimos tempos e conseguiu que a taxa de ocupação ficasse em 62%. Mesmo assim, ele considera o índice baixo. “É um investimento muito alto para pouco retorno”, avalia.