Depois de duas derrotas consecutivas na reforma trabalhista, o presidente Michel Temer diz que está disposto a "dialogar" com o Congresso. Mas alerta que não há como postergar as reformas e que "conta com o Congresso" para aprová-las. Ao explicar o processo a investidores estrangeiros em Oslo, na Noruega, Temer ignorou os obstáculos que tem sofrido nesta semana.
"Para mudarmos o Brasil, adotamos como método de governar o diálogo", disse Temer, em visita a Oslo. "O diálogo entre o Poder Legislativo e Executivo. Apesar de ser um sistema presidencialista, eu passei 24 anos no Parlamento", lembrou. "Eu faço o presidencialismo semi-parlamentarista e conto enormemente com o apoio do Congresso para reformas inadiáveis que estamos fazendo", disse. "O governo está com a disposição para ouvir e construir pontes", disse. "Assim, medidas tem sido examinadas e aprovadas", afirmou.
Os comentários foram feitos em uma reunião com 17 empresários noruegueses, no único evento de Temer nesta quinta-feira, 22, em Oslo. O país escandinavo é hoje o oitavo maior investidor no Brasil, principalmente no setor de energia e petróleo.
Além do presidente, estavam no encontro os ministros Marcos Pereira (Indústria e Comércio), Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Antonio Imbassahy (secretaria do governo). "Trago uma mensagem de confiança. O Brasil, sem medo de errar, está deixando para trás uma severa crise de sua história", disse o presidente.
A oposição impôs na quarta-feira o segundo revés consecutivo ao governo na tramitação da reforma trabalhista. Um dia após a derrota na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), governistas tiveram de ceder na agenda do projeto e já reconhecem que o texto só será votado em plenário no mês de julho, às vésperas do início do recesso legislativo. Até o início da semana, era dada como certa a votação em plenário na próxima quarta-feira, 28.
Adiar a tramitação faz parte da estratégia da oposição que, diante do reconhecimento de que o governo tem votos suficientes para aprovar o projeto, prefere jogar com o tempo para tentar atrair mais descontentes. A sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) foi mais um sinal de que o governo parece perder força no Congresso.
Temer, aos empresários noruegueses, insistiu na pauta das reformas. "Temos levado adiante reformas que não se via no pais há muitos anos", disse. Sobre a reforma trabalhista, ele indicou que ela já foi aprovada na Câmara e, sem entrar em detalhes sobre suas derrotas, disse que "está em exame no Senado". "Essa reforma tem como foco o reforço dos acordos coletivos para adaptar regras vigentes ao mundo atual e reduzir números de ações na Justiça do trabalho. A ideia é de que ambas as partes possam formalizar acordos coletivos", comentou.
Na avaliação de Temer, os resultados das reformas "já aparecem". "A inflação está sob controle. Quando assumi, era de 10%. Vamos fechar o ano abaixo do centro da meta de 4,5%. Hoje, está em 3,6%", disse. "A economia voltou a crescer, depois de dois anos de contração. O PIB aumentou em 1% no primeiro trimestre e ainda criamos condições para a queda consistente dos juros", insistiu, lembrando para o fluxo de investimentos já chegou a US$ 21 bilhões em 2017.
Temer ainda voltou a falar da importância do teto de gastos fiscais e de que, em dez anos, pode haver um equilíbrio entre a arrecadação e gastos. "O próximo passo é a reforma da previdência, que já esta em estagio avançado da Câmara. Vamos aprova-la", garantiu.
Ao falar com os empresários, insistiu que as oportunidades de investimentos são "muitas". "Essa é uma forma nova que inauguramos no nosso país", disse, apontando para o novo marco regulatório no pré-sal e outras regiões. "Para o Brasil, é um recomeço e queremos que a Noruega faça parte desse momento muito saudável e próspero do nosso País", completou, garantindo que as reformas continuam.
Ignorado ao discursar, Temer não atraiu a atenção da imprensa local. Apenas um jornal norueguês estava no evento, com um repórter que fazia sua terceira cobertura desde que se formou na universidade e com apenas 23 anos. Sua pauta para a edição de sexta-feira era a corrupção no Brasil.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que muitas empresas vão insistir em obter do governo sinais de "consistência" por parte das políticas fiscais e econômicas. As empresas, antes do encontro, não disfarçavam que estavam preocupadas com a crise no Brasil. "O impacto é real e, em alguns setores, vemos paralisação de atividades", disse Egil Haugsdal, presidente da Kongsberg.Leia mais:
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