Armadas até os dentes: quadrilhas levam terror a cidades do interior de Minas

Raul Mariano e Tatiana Lagôa
horizontes@hojeemdia.com.br
11/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:29
 (Polícia Militar)

(Polícia Militar)

A onda de violência que tem aterrorizado cidades do interior de Minas chama atenção não apenas pelas mortes e prejuízos causados, mas também pelo armamento pesado utilizado com frequência pelas quadrilhas.

Santa Margarida tem apenas 16 mil habitantes

Na manhã de ontem, o pequeno município de Santa Margarida, na Zona da Mata, assistiu um grupo de assaltantes com fuzis e submetralhadoras roubar um banco, fazer reféns e ainda matar um policial.

O episódio não é um caso isolado e dá uma dimensão do verdadeiro arsenal que está sob o domínio de criminosos em Minas.

Prova disso, é o crescimento do número de apreensões de armas de uso restrito – as que são permitidas apenas para forças de segurança –, que cresceu 46% no primeiro quadrimestre do ano, frente ao mesmo período de 2016, segundo o Centro Integrado de Informações de Defesa Social da Polícia Militar. 

No início de julho, quatro homens fortemente armados assaltaram um carro-forte, em Uberaba, no Triângulo Mineiro e levaram R$ 310 mil

Para se ter uma ideia, só a quantidade de submetralhadoras recolhidas no Estado saltou de 43, de janeiro a abril de 2016, para 79 no mesmo período desse ano. Um aumento de nada menos que 84%. 

Para o ex-delegado Islande Batista, que já chefiou o Departamento de Crimes contra o Patrimônio da Polícia Civil de Minas, a fragilidade da fiscalização nas fronteiras brasileiras é o grande gargalo para que o país recebe grandes quantidades de armamento ilegal. 

“Eu diria que 90% dessas armas vêm de fora do Brasil. E isso chega justamente em cidades onde há poucos policiais, como é o caso de Santa Margarida. Hoje, uma pessoa comum consegue ir ao Paraguai ou Bolívia, comprar uma metralhadora e voltar para o Brasil tranquilamente sem ser incomodado. É o mesmo problema das explosões de caixas eletrônicos, em que criminosos usam armamentos superpesados, como dinamites e armas de grosso calibre”, explica.Montagem HD / N/AImagens e vídeos da ação criminosa em Santa Margarida foram replicadas milhares de vezes nas redes sociais

Em 5 de julho, oito homens explodiram duas agências bancárias e uma agência dos Correios na cidade de Chalé, Leste do Estado

Combate

O coordenador de Centro Pesquisa em Segurança Pública da PUC Minas, Luis Flávio Sapori, destaca que crimes como o de Santa Margarida acontecem na maioria das cidades do interior do Brasil. As razões, segundo ele, são a pequena quantidade de militares nessas localidades e o avanço do contrabando de armas nos últimos anos. 

929 pistolas foram apreendidas pela PM nos quatro primeiros meses de 2017 no Estado

“É uma conjunção de fatores que dificulta muito a repressão a esse tipo de crime, que tem na raiz a formação de quadrilha. A única maneira de enfrentá-lo é através de uma investigação rigorosa. A Polícia Militar sozinha não dá conta. Seria necessária uma ação rigorosa, encabeçada pelo Ministério da Justiça, cruzando informações das polícias de todos os Estados”.

Procurada, a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou que todas as ações voltadas para a apreensão de armas de uso restrito são de responsabilidade da Polícia Militar.

Na primeira semana de julho, três criminosos assaltaram uma casa de idosos e roubaram R$ 30 mil, em Brumadinho, na região metropolitana de BH

O major Flávio Santiago, chefe de imprensa da PM, afirmou que a corporação tem intensificado as abordagens, o que já reduziu em 40% o número de explosões a caixas eletrônicos no Estado neste ano. 

“A polícia tem treinado a tropa e, grande parte da ultima turma de formados, foi enviada para o interior. Há um constante monitoramento dos infratores”, diz.

Sem êxito no assalto, bandidos deixam moradores em pânico

A pacata Santa Margarida, na Zona da Mata Mineira, teve ontem uma manhã sangrenta. Quatro bandidos fortemente armados tentaram assaltar a agência do Banco do Brasil e uma cooperativa de crédito. Durante a ação, mataram um policial e um vigilante, em pleno Centro da cidade por volta das 9h. O bando ainda fugiu com dois reféns, que foram liberados pouco tempo depois. 

40% foi o crescimento das apreensões de fuzis de uso restrito em Minas, de janeiro a abril, na comparação com o mesmo período de 2016

O cabo Marcos Marques da Silva, de 36 anos, foi atingido com um tiro na cabeça. Minutos antes, eles tinham acertado o vigilante Leonardo José Mendes na agência bancária, onde não conseguiram levar nenhum centavo. Segundo a assessoria da instituição, o cofre tem trava remota. 

As cenas fortes, milhares de vezes replicadas em redes sociais ao longo do dia, assustaram os moradores do município. Até parte do comércio ficou com as portas fechadas. 

Cinco metralhadoras foram recolhidas neste ano pela Polícia militar em Minas, de janeiro a abril

“Quando ouvimos os tiros fomos olhar da varanda. Eles apontaram armas para o nosso lado. Então ficamos trancados, com medo”, conta Joelma de Oliveira, que trabalha em um escritório bem em cima da cooperativa.

Com apenas nove policiais na cidade, foi necessário apoio nas buscas. O helicóptero Pégasus, da PM, e o Carcará, da Polícia Civil, também foram usados. Até o fechamento desta edição, três bandidos tinham sido presos.

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