Setenta bonecos que parecem ter saído das telas da pintura primitiva e ingênua que caracteriza a arte de Bajado, que se autointitulava e assinava sua obra como "um artista de Olinda" ,vestem ruas e ladeiras históricas da cidade patrimônio da humanidade.
Homenageado do carnaval, Bajado (1912-1996) retratou figuras do cotidiano e do carnaval olindense. São reis e rainhas do carnaval, ursos, acordeonistas, o homem da meia noite, a mulher do dia, passistas bêbados, casais enamorados.
Eles estão distribuídos na Praça do Largo do Palácio e ao longo das avenidas Sigismundo Gonçalves e Liberdade.
Para ser fiel à obra do artista, os bonecos foram reproduzidos como se estivessem em movimento, são opacos e não se vestem com tecido. Embora os mais altos cheguem a cinco metros, eles nada têm a ver com os bonecos gigantes que também fazem a festa rua de olindense com seus risos largos e longos braços que balançam acompanhando as evoluções realizadas pelos homens que os carregam.
Setenta pessoas trabalharam na sua confecção, sob o comando do cenógrafo e bonequeiro Fernando Augusto, que foi vizinho de Bajado. "Ele era um homem simples, do povo, sem nenhuma pretensão, um grande intuitivo que não tinha conhecimento acadêmico de pintura, mas retratou Olinda como ninguém", afirmou.
"Bajado levou para seus quadros, painéis e fachadas verdadeiros flagrantes, visões instantâneas do cotidiano da cidade que ele percebia da sua janela, uma janela mirante".
Francisco Euclides Amâncio, o Bajado, teve sua obra reconhecida nacionalmente nos anos 1980 e ao fazer 80 anos, em 1992, foi homenageado com uma mostra na sede da Unesco, em Paris.
Morreu quatro anos depois, simples como sempre foi. Já não pintava, devido a uma catarata.
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