(Sebrae Minas/Divulgação)
A pandemia da Covid-19 trouxe e ainda traz grandes impactos à economia, especialmente às micro e pequenas empresas brasileiras. Passado quase um ano da chegada do novo coronavírus ao país, nada menos que sete a cada dez dessas organizações acusam problemas financeiros.
Mas também há bons motivos para comemoração e esperança, no que tange aos pequenos negócios. No auge dos efeitos da crise, em 2020, por exemplo, eles foram os maiores responsáveis pela geração de empregos no Brasil e no Estado, superando as médias e grandes organizações.
Nesta entrevista, o diretor técnico do Sebrae Minas, João Cruz Reis Filho, explica as razões de tal performance, destaca a capacidade de adaptação e inovação de diversos segmentos e fala sobre os desafios das MPE e do país, de um modo geral, para a retomada do desenvolvimento.
Em 2020, as MPE sofreram com a pandemia, assim como as médias e grandes, mas geraram bem mais empregos. A que se deveu isso?
As Micro e Pequenas Empresas, mesmo com todos os obstáculos que enfrentam, formam um ambiente muito dinâmico tanto pela sua representatividade no total de empresas quanto pela necessidade de mão de obra para sua operação. As grandes e médias empresas concentram parte significativa dos empregos, mas seus movimentos de ajuste, normalmente, são mais lentos. Além disso, há que se considerar que a pandemia, seja por necessidade ou oportunidade, abriu oportunidades para alguns segmentos.
Ainda sobre a pandemia, como o senhor avalia as medidas oficiais adotadas para evitar o estrangulamento de atividades que em predominam micro e pequenas empresas ? É preciso que algumas sejam renovadas?
As medidas governamentais foram importantes no primeiro momento de enfrentamento à crise, mas muitas delas não tiveram o impacto desejado seja por dificuldades estruturais e burocráticas ou pela desestruturação dos pequenos negócios que dificultam o acesso ao crédito e a recomposição do seu quadro de empregados. O auxílio emergencial, sem dúvidas, foi um mecanismo importante para injetar dinheiro na economia que foi rapidamente absorvido por uma parte significativa das MPE. Infelizmente, os efeitos da crise ainda são presentes e todas as medidas precisam ser repensadas considerando os aprendizados com a primeira fase, a restrição de recursos do poder público e as perspectivas que virão com a evolução da imunização.
Em relação aos MEI, também houve crescimento no número desses negócios. O senhor pode explicar esse fenômeno?
O Microempreendedor Individual (MEI), referente a lei criada em 2010, tem se revelado uma política bem-sucedida no combate à informalidade e como alternativa para geração de emprego e renda. Percebemos o crescimento do MEI tanto para àquelas pessoas que saíram do mercado de trabalho e encontraram dificuldades de recolocação, mas também para pessoas que encontraram no empreendedorismo uma oportunidade para atuar em novas demandas criadas pela pandemia. Grandes empresas de tecnologia e instituições financeiras já começam a compreender a importância desse público e sua evolução é uma boa notícia. Portanto, para além da pandemia, percebe-se uma transição no mercado de trabalho, tanto que a terceirização se apresenta juridicamente amparada.
Muito se usa a palavra “reinvenção” na pandemia. Para alguns empreendedores, isso significa adequação ao isolamento social. O que houve de positivo e de negativo em tal movimento?
Cada crise tem suas características e impactos específicos sobre as MPE e essa, em especial, escancarou grandes deficiências no sistema de saúde, na educação, na infraestrutura que ao serem estressadas pela sociedade não apresentaram a resposta adequada. Por outro lado, essa mesma crise também destacou a capacidade de adaptação e inovação de diversos segmentos dos pequenos negócios. O teletrabalho (home-office) e a digitalização, por exemplo, vieram para ficar. Isso renova a esperança nos pequenos negócios como importante vetor de emprego e renda no desenvolvimento de Minas Gerais e no Brasil.
Que negócios mais se adaptaram e que ferramentas e processos mais permitiram que isso acontecesse?
Em cada segmento, os pequenos negócios se beneficiaram de estratégias digitais conforme as características do seu modelo de negócio e mercado de atuação. Alguns bares e restaurantes se favoreceram com os serviços de delivery das grandes plataformas como Ifood, Rappi entre outras. Já o comércio, pela utilização de portais de venda, como o Mercado Livre, e ferramentas de comunicação como Whatsapp e Instagram. E no setor de serviços tivemos as ferramentas de videoconferência que permitiram que educadores, psicólogos, trabalhadores administrativos, por exemplo, pudessem continuar suas atividades remotamente. Mesmo assim, diversas atividades experimentaram dificuldades nessa transformação.
Segundo o Sebrae, quase 70% dos pequenos negócios mineiros atravessam dificuldades financeiras neste momento. O que a entidade tem feito para ajudá-los?
A pandemia ressaltou diversas fragilidades das MPE, como problemas na estrutura de capital dos empreendimentos, dificuldades de gestão, de acesso ao crédito, de inovação, entre outros, que somados à retração da atividade econômica e medidas de restrição da circulação de pessoas foram um golpe duro nas finanças dos pequenos negócios. O Sebrae tem atuado desde na articulação para a proposição de políticas públicas e criação de linhas de crédito como o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (FAMPE), bem como na orientação e capacitação sobre as melhores estratégias para enfrentar a crise. Escalamos nosso atendimento digital e nos conectamos ainda mais com nossos clientes.
O Sebrae sempre defendeu a ideia de união entre empresas para formar cadeias produtivas e fortalecer tais grupos. Como tem sido esse trabalho?
Entendemos que a atuação no desenvolvimento econômico não pode estar apartada das soluções de educação e gestão empresarial. Durante a pandemia o Sebrae Minas intensificou sua atuação nos canais digitais para apresentar suas soluções aos empreendedores e ao poder público. Inclusive estamos realizando, em parceria com a Associação Mineira dos Municípios, diversas ações que permitam aos prefeitos eleitos e reeleitos, planejarem suas ações de desenvolvimento econômico local com foco no empreendedorismo e nos pequenos negócios. Lançamos novas marcas coletivas, fortalecemos nossas indicações geográficas, estimulamos a forma-lização via consórcios intermunicipais e ajudamos nossos produtos de Minas, do artesanato aos agroalimentares, se conectarem digitalmente com os consumidores.
A CDL-BH solicitou apoio ao Sebrae para levar a Brasília a ideia de descontos no Simples nacional...
Sim, a CDL-BH tem nosso apoio nessa demanda e trabalha com os mineiros Bruno Quick e Carlos Melles, diretor-técnico e presidente do Sebrae Nacional, respectivamente, para que os pleitos sejam atendidos.
Que eventos e ações o Sebrae Minas preparou para os próximos dias e meses e quais as expectativas da entidade, já que ainda estamos um pouco distantes de superar a pandemia?
Aguardamos ansiosamente a vacinação em massa da população para o restabelecimento da normalidade. Porém, respeitamos todas as deliberações das autoridades municipais e de saúde para que nossos colaboradores e clientes estejam seguros. Exatamente por isso, temos ampliado nossos conteúdos digitais, como cursos, palestras e até mesmo, eventos, para contribuir na superação da crise econômica advinda dos efeitos da pandemia. Convido todos os leitores para nos seguir nas redes sociais e acessarem nosso site (sebrae.mg). Neste ambiente virtual é possível ter acesso à programação de cursos e eventos do Sebrae Minas, e ainda, conteúdos exclusivos e gratuitos que poderão ajudar os empreendedores nesse momento tão difícil.