As mulheres da festa de Paraty

30/04/2016 às 22:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:13

Mulheres e Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) são duas coisas que combinam. Pelo menos a edição deste ano, que acontece na primeira semana de julho, será feminina e forte. A começar pela homenageada, Ana Cristina Cesar, que ganhará livro de fotos e poemas inéditos do Instituto Moreira Sales organizado pelo poeta Eucanaã Ferraz, e será lembrada em várias montagens na cidade histórica. A continuar pela primeira autora confirmada, nada menos que a prêmio Nobel de Literatura, a bielorrussa Svetlana Alexiévitch. Autora de “Vozes de Tchernóbil”, escrito em 14 anos de pesquisas sobre os efeitos do acidente na usina nuclear, é mais que uma estrela para a festa.

Mesmo para aquele que já percorreu suas linhas inteiras, Clarice é outra, sempre. Mais completa e, ao mesmo tempo, mais enigmática, ela é mostrada nessa coleção de contos.

Outra presença feminina na Flip é mais uma vez ela, Clarice Lispector. A trajetória da jovem/mulher/fada/bruxa que buscava entender a vida por meio da escrita está no livro do seu biógrafo, o norte-americano apaixonado pela brasileira Benjamin Moser, “Todos os Contos”, pela editora Rocco. O livro já foi lançado nos Estados Unidos e era esperado por aqui. A redescoberta de Clarice – que na verdade nunca foi esquecida – tem povoado o imaginário de quem tenta entender a dimensão dessa escritora. A cada vez que se lê Clarice, uma mulher é revelada. O seu humano se mostra mais rico a cada célula do próprio corpo, em cada ideia para o futuro, em minúsculas contemplações da natureza ou nas incertezas até sobre o que podia tocar. Tendo sido uma mulher complexa, deixou uma literatura capaz de se multiplicar diante dos olhos do leitor, mesmo daquele que não é novato. Mesmo para aquele que já percorreu suas linhas inteiras, Clarice é outra, sempre. Mais completa e, ao mesmo tempo, mais enigmática, ela é mostrada na coleção de contos que passeiam pelas suas idades. Moser soube nos trazer de volta essa mulher, a que nunca se foi. 

Diante de tamanha força feminina, a Flip permanece no cumprimento de seu papel de empoderamento da literatura. Para o bem dos homens. 

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