Associação dos artesãos de Bocaiúva alça vôos com o trabalho de recuperação de jovens

Jornal O Norte
05/07/2006 às 11:06.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:39

Valéria Esteves


Repórter


valeria@onorte.net

Apesar do momento de crise, é preciso manter a vontade de mudar o quadro atual do agronegócio. É assim que pensam os expositores da Expomontes que querem fechar negócios com a venda de tratores, cachaça, doces, créditos bancários, guloseimas e outras infinidades de produtos que podem ser encontrados na 32ª exposição agropecuária de Montes Claros.




Aba leva para Expomontes produtos feitos por meninos de rua


(foto: divulgação)

Quando se refere a essas infinidades, a Aba - Associação bocaiuvense de artesãos pode falar com precisão. Criada em 1996 com o intuito de preservar os valores culturais e ainda dar outras perspectivas de vida para o cidadão bocaiuvense, a entidade tem trabalhado no resgate de meninos de rua que aprendem no artesanato como lidar com a vida. Há ainda projetos como o Projeto Amanhã da Codevasf - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba, que dão oportunidade ao jovem da zona rural de conseguir o primeiro emprego.

INTERESSE

Segundo dados da presidente da entidade, Ismênia Aparecida de Oliveira o trabalho artesanal da Aba é doméstico e mesmo assim tem atraído atenção e o interesse de meninos e meninas que são usuários de droga ou se prostituem.

- Aqui, a lei da física ação e reação acontece na prática – diz Ismênia.

Vale lembrar que a associação que está mostrando seu trabalho na Expomontes trabalha com cerca de 300 famílias de Bocaiúva e com a expectativa de capacitar mil alunos no Projeto Amanhã, da Codevasf. Ismênia conta que os pequenos começam nas oficinas trabalhando com o barro, quando criam peças que iguais às outras feitas pelos jovens e adultos são comercializadas na cidade e região. Mais de 100 ações envolvendo parceiros já foram realizadas, sendo que algumas peças já ganharam o mundo, sendo exibidas no catálogo internacional de artesanato.

Em média, cada participante da associação consegue tirar de um a quatro salários mínimos dependendo do período de safra e entressafra dos alimentos. Isso porque as guloseimas e a matéria prima para a produção dos artesanatos estão juntas de alguma forma. Um bom exemplo é o caixote dos sacolões.

COMERCIALIZAÇÃO

Na exposição agropecuária a Aba aproveitou para comercializar seus doces. A pretensão é vender de cinco a oito mil doces de sabores variados. O artesanato em palha de milho e em capim colonhão tem chamado atenção de quem visita o stand. Há cestas, pulseiras, mandalas, bonecas feitas com saco de estopa e bolsas bordadas. O detalhe é que os doces são muito bem aceitos e a venda é certa em todos os dias da Expomontes.

Mas a maior conquista da associação, conforme narra Ismênia, foi a de dar casa para quem morava debaixo de um pé de manga.

- Depois que as pessoas de uma família de Bocaiúva passaram a encontrar um estímulo para o incremento da renda na Aba, o dinheiro foi chegando e aos poucos a casa foi sendo construída. Todos os quatro integrantes da mesma, hoje, trabalham na Aba confeccionando peças elaboradas a partir de caixotes de feira conseguidos em sacolões da cidade. Deles são feitas várias peças da qual pode se destacar os porta-trecos entre tantos outros.

ATIVIDADES

Os jovens dos arranjos produtivos têm em média de 14 a 26 anos e se especializam em apicultura. A presidente diz ainda que quase tudo o que é produzido na Aba é oriundo de materiais recicláveis.

- Antes o pessoal botava fogo nas palhas de milho e hoje aproveitam para fazer cortinas e bolsas que ganham um toque final com um acabamento feito em fuxico. Temos a pretensão de também dar condições de o jovem da zona rural continuar lá, evitando o êxodo rural.

A Aba tem a preocupação de evitar que o jovem deixe a zona rural e siga para as cidades promovendo os chamados bolsões de pobreza nos grandes centros que poderiam se chamar também de favelas.

O próximo passo da entidade é colocar uma loja no mercado municipal de Bocaiúva, com atividades que envolvem teatro, com lanchonete, restaurante e atividades artístico-culturais num mesmo lugar.

Quando a coisa aperta, Ismênia comenta que a opção é buscar financiamentos no Banco do Nordeste por meio do Crediamigo.

- O que não pode acontecer é parar de produzir - enfatiza.

PROJETO AMANHÃ

Ivan Ibrahim, coordenador regional do Projeto Amanhã informou que a parceria com a Aba já capacitou cerca de 100 jovens que se interessam pela apicultura, assim como pela serigrafia, bordados diversos, marcenaria, confecção de bolsas. O objetivo é proporcionar emprego e renda além de capacitar os jovens que estão em busca do primeiro emprego.

A previsão é que ainda nesse ano mais jovens recebam orientações, nos mais diversos cursos a serem ministrados pela Codevasf.

- Queremos trabalhar também com a palha de milho e continuar a capacitação com os cursos de apicultura que tem dado condições de ganho financeiro para as famílias.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por