Áudios divulgados pela Polícia Militar (PM) nesta quarta-feira (20) revelam o teor das denúncias recebidas pela corporação a respeito de ameaças em uma festa na Vila Barraginha, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, no último sábado (16). Na ocorrência, Marcos Vinícius Vieira Couto, de 29 anos, morreu baleado por um policial.
A PM recebeu pelo menos três ligações no 190 que citavam Marcos Vinícius, conhecido como Marquinhos, como responsável por ameaças na festa. As denúncias também citam que ele estava armado. “Ele é o perigoso aqui, é o chefe do tráfico aqui. E está com uma pistola”, disse um dos denunciantes.
Em outra ligação, um homem que estava na festa conta: “ele chegou apontando a arma para todo mundo. Ele começou a dar uns tiros aqui. Eu estava no meio da multidão. Todo mundo correndo, porque ele está dando tiro para tudo quanto é lado”.
Para a major Layla Brunella, porta-voz da Polícia Militar de Minas Gerais, os áudios reforçam a posição da corporação de que Marquinhos era um dos líderes do tráfico de drogas na região e que não houve ilegalidade na abordagem, que resultou na morte do suspeito.
“[Os áudios] dão a certeza de que ele está alterado e armado. Ele ameaçou a comunidade. São palavras de moradores. Todo contexto que narramos foram colocados à disposição pública com a confirmação de que era uma pessoa conhecida na região, perigosa e que estava armado”, afirmou.
Apesar dos relatos de que o suspeito estava armado, o artefato não foi apreendido na ocorrência.
Ainda segundo a major, os áudios apontam para “alta complexidade” do caso. “Quando a gente recebe um chamado, é repassado a viatura os detalhes, essenciais para o militar deslocar para ocorrência prevendo um cenário. Um chamado com esse tipo de detalhe - armado, perigoso - faz o militar estar mentalmente preparado”.
A família da vítima nega que o rapaz tenha reagido. A irmã do jovem afirma que os policiais teriam tentado levar ele para um beco. "Em momento algum meu irmão reagiu. Eles tentaram levar ele para um beco, ele não quis, então eles o levaram 'pra trás' da kombi e mataram ele a sangue frio", denúncia a mulher.
Leia a transcrição das denúncias na íntegra:
Ligação 1
Atendente: 190, qual a emergência?
Denunciante: Por favor, aqui é da Vila Barraginha. Está tendo uma festa de quadrilha. Tem um cara aqui com nome de Marquinhos. Ele é o perigoso aqui, entendeu? É o chefe do tráfico aqui. E ele está com uma… essa arma grande, essa pistola, né? Queles (sic) fala. Ele está ameaçando o pessoal aqui. Parece que a arma está sem bala. Ele tacou (sic) a ponta do cano [da arma] em um rapaz, perto do cílio, do olho dele, está aquela sangueira. Agora o pessoal está… a turma do deixa disso. Ele está aqui perto da festa. Até parou a festa. Tem como mandar uma viatura?
Atendente: Como que ele é, senhor?
Denunciante: Moreno, alto.
Atendente: Está vestido com qual roupa?
Denunciante: Uma roupa azul claro. Uma blusa, de manga curta e calça jeans.
Atendente: Ele está acompanhado ou sozinho?
Denunciante: Sozinho. Tem uns três andando com ele aí, mas tudo gente dele.
Atendente: Solicitação feita a polícia vai ao local averiguar.
Ligação 2
Atendente: 190, qual sua emergência?
Denunciante: É… o que acontece. Eu estava em uma festa aqui na Vila Barraginha, só que tem um rapaz aqui que está com a arma na mão. Ele está muito doido, apontado a arma para todo mundo, ameaçando.
Atendente: Chegou a te ameaçar?
Denunciante: Eu estava na festa e ele chegou apontando a arma para todo mundo. Parece que.. ele começou a dar uns tiros aqui.
Atendente: Ele está efetuando disparos?
Denunciante: está. Estava no meio da multidão, todo mundo correndo. Ele deu tiro para tudo quanto é lado. Peço que [a polícia] venha aqui, porque ele está dando tiro para tudo quanto é lado. O pessoal correndo para todo lado. Tinha uma festa aqui, a festa até terminou. O pessoal se escondeu, porque ele chegou aqui com arma em punho.
Atendente: Viatura vai ao local, viu senhor.
Denunciante: Está okay.
Ligação 3
Atendente: 190 qual sua emergência?
Denunciante: Boa noite. Gostaria de denunciar uma troca de tiros em uma festa junina.
Atendente: Qual o município?
Denunciante: Cidade de Contagem.
Atendente: As pessoas que estão trocando tiro estão no local ainda?
Denunciante: Estão, sim. É muita gente. Estava tendo uma festa junina. Todo mundo correu para dentro de casa.
Atendente: É próximo à fábrica de tecido?
Denunciante: É
Atendente: Ah, tá. Já tem um pedido de viatura para ir aí, por conta de uma ameaça. Vou pedir para agilizar a chegada aí, tá?
Denunciante: Tá okay, obrigado.