Entrevista

'Aumentar a diversidade nas empresas traz vantagens reais', afirma executiva da Aperam

Aperam é a maior siderúrgica de aços inoxidáveis da América Latina

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 02/12/2024 às 07:30.
 (Elvira Nascimento/Aperam)

(Elvira Nascimento/Aperam)

Gisele Polati, 45 anos, sempre cultivou uma afinidade especial com os números. Mas entre cálculos, previsões e levantamentos, a executiva mineira é reconhecida também pela habilidade de liderar mantendo a proximidade com os colegas. E é assim que ela pretende enfrentar o desafio de comandar a área financeira da Aperam, maior siderúrgica de aços inoxidáveis da América Latina.

Em setembro, Polati se tornou a primeira mulher diretora da empresa. A promoção ao cargo de CFO (Chief Financial Officer) veio logo após o retorno da licença-maternidade, algo ainda pouco comum no mundo corporativo. Para a executiva, a maternidade ainda é, muitas vezes, uma barreira para as mulheres na carreira. “Sabemos que muitas vezes a maternidade ainda é uma justificativa para não se considerar mulheres para algumas posições”, lamenta. 

Nesta entrevista, ela comenta os desafios de liderar uma área estratégica em tempos adversos e o fato de ser a primeira mulher a ocupar uma diretoria na Aperam, que acaba de completar 80 anos. 

Na empresa, Gisele Polati começou como estagiária da área de previdência, aos 21 anos, quando a empresa ainda se chamava Acesita, logo após a privatização, em 2000. O que diferencia a história dela, porém, não é apenas a promoção ao cargo de diretora, mas o estilo de liderança que a levou até lá. 

Na sua avaliação, quais os desafios de chefiar a área financeira de uma grande siderúrgica em meio à desaceleração do mercado e excesso de capacidade do setor?
Sem dúvidas é o maior desafio da minha vida profissional. Acredito que a agilidade demonstrada pela Aperam em momentos adversos, ao longo da sua história, é um trunfo na atual conjuntura. Sempre trabalhamos bem como equipe, articulando todas as áreas para reagir e responder aos desafios, tanto do mercado como dos internos. Esse histórico me traz segurança de que, com essa equipe, conseguimos superar qualquer adversidade.

O que significa, para você, ser a primeira diretora da história da Aperam?
Posso dizer que é um sentimento de muita responsabilidade associado a uma imensa gratidão. Estou na Aperam há mais 20 anos, entrei aqui como estagiária, e sempre me senti muito desafiada, assumindo áreas novas e funções. Isso é imprescindível para que eu me mantenha motivada. Além disso, assumo esta posição em um momento muito importante da minha vida pessoal, com a chegada do meu filho, e em nenhum momento deixei de ser considerada para a posição em função disso. Parece óbvio, mas não é como o mercado funciona pra gente. Fico feliz por ser a primeira, e espero não ser a única. Temos uma meta de aumentar a participação das mulheres na empresa, e percebo um esforço genuíno da Aperam para atingir este objetivo. Que sejamos cada vez mais um lugar onde as pessoas se sintam seguras, confiantes, felizes e verdadeiramente apoiadas. 

Na sua opinião, como o setor minero-metalúrgico, predominantemente masculino, tem evoluído na agenda de diversidade e inclusão?
Percebo que há um movimento em busca de mais diversidade, e isso é muito gratificante, No entanto é preciso ter consciência do quanto o mercado, de forma geral, ainda precisa evoluir. A gente sabe que algumas questões, como a própria licença-maternidade, ainda orientam a decisão de algumas empresas de considerar ou não as mulheres para determinadas posições. Eu fui promovida para este cargo de Diretora Financeira logo após o meu retorno da licença maternidade, inclusive, mas esta não é a realidade do mercado de trabalho quando aplicamos sobre ele um olhar mais macro. Então ver mulheres chegando a cargos tão estratégicos mostra uma evolução necessária e extremamente importante. O que eu espero é que cada vez mais mulheres conquistem cargos de liderança, assim como pessoas pretas, LGBTQIA + e tantos outros grupos que ainda encontram barreiras para se desenvolver.

Recentemente, o Ibram, o Instituto Brasileiro de Mineração, empossou uma mulher na presidência do seu Conselho Diretor - Ana Sanches. Qual a importância dessa nomeação para a agenda de diversidade de gênero no setor?
Ana se tornou a primeira mulher a assumir o Conselho do Ibram, que durante quase 50 anos só teve representantes homens. Este é um setor predominantemente masculino. Estamos falando de um marco, que abre espaço para um novo olhar sobre os desafios pujantes do mercado. A diversidade é sempre positiva, e não à toa tem tido maior atenção por parte das empresas. Ela permite novas perspectivas sobre um mesmo aspecto, dando espaço para a criatividade, a inovação e o desenvolvimento. E pessoalmente, como mulher, me sinto feliz sempre que vejo outra mulher sendo reconhecida por sua competência.

Quais tendências devem moldar esse cenário?
Acredito que esse é um caminho sem volta, por uma questão até mesmo de competitividade. Inúmeras pesquisas mostram que uma empresa tem muitos benefícios quando tem um time mais diverso. O crescimento das mulheres nas empresas é uma força transformadora. Quando promovemos a diversidade de gênero, não apenas abrimos portas para talentos únicos, mas também ampliamos o leque de habilidades e perspectivas dentro das organizações. Essa pluralidade vai além de ser uma questão de inclusão — ela traz vantagens reais para os negócios.

A presença de mulheres em diferentes níveis hierárquicos enriquece o ambiente com uma visão mais ampla das necessidades e expectativas do público, refletindo melhor a diversidade do mercado consumidor. Isso faz com que as empresas se tornem mais conectadas com seus clientes, solucionando problemas de forma mais inovadora e eficiente. Quando bem administrada, essa diversidade de pontos de vista cria uma vantagem competitiva natural, pois permite que a empresa enxergue oportunidades onde outros não veem, conectando talentos e ideias que impulsionam o crescimento sustentável.

Fale um pouco sobre sua trajetória profissional dentro da Aperam e seu estilo de liderança.
Eu passei por um ciclo natural de crescimento dentro da Aperam. Entrei como estagiária, passei para analista, depois gerente executiva de Crédito e Cobrança, tendo sido responsável por internalizar o processo de seguros da empresa. E, por último, antes da promoção ao cargo de diretora, ocupei a posição de gerente financeira, com maior envolvimento na controladoria.
Sobre meu estilo de liderança sempre acreditei que estar próxima da equipe, saber o que as pessoas estão vivendo no momento, se importar com isso e liderar pelo exemplo são características importantes que a fizeram crescer e acumular novos cargos e responsabilidades. Como eu disse, é preciso ter coerência entre o discurso e o comportamento. Não adianta eu falar que as pessoas são importantes para mim e não me importar com o que elas me contam. Elas veem o que a gente faz e não o que a gente fala. Eu estou sendo coerente com meu discurso, as minhas atitudes?

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