ENTREVISTA

'Autoconhecimento é essencial ao iniciar novo percurso profissional’, diz o headhunter David Braga

Recém-escolhido para presidir a Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), o novo colunista do Hoje em Dia ensina que identificar as próprias competências e habilidades ajuda a guiar a carreira

Do HOJE EM DIA
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Publicado em 23/12/2024 às 06:00.
"O profissional de hoje e do futuro é plural, capaz de se adaptar a diferentes grupos de trabalho, lidar com a diversidade em seus mais variados aspectos e contribuir para o engajamento de equipes distintas", diz David Braga (Alex Ayala/ divulgação)

"O profissional de hoje e do futuro é plural, capaz de se adaptar a diferentes grupos de trabalho, lidar com a diversidade em seus mais variados aspectos e contribuir para o engajamento de equipes distintas", diz David Braga (Alex Ayala/ divulgação)

Conhecer a si mesmo é habilidade que deveria estar nos currículos. O autoconhecimento ajuda a pessoa a assumir as rédeas da vida profissional e a agir para subir na carreira e, quem sabe, até fazer a transição de área. Quem afirma é David Braga. CEO da Prime Talent – empresa de busca e seleção de executivos presente em 30 países –, o headhunter e novo colunista do Hoje em Dia fala, nesta entrevista, sobre o desejo de mudança profissional que costuma vir com a chegada do Ano Novo; como transformar a Inteligência Artificial em  aliada; os ganhos das empresas ao associarem a experiência de funcionários veteranos com a energia dos jovens; e sobre a missão que ele mesmo terá à frente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-MG), da qual é o novo presidente. Confira. 

O ano novo está chegando e, com ele, um desejo de mudança, novos ares. Para quem está buscando um redirecionamento de carreira, qual o primeiro passo?

Construir uma trajetória de sucesso exige planejamento, cautela e, principalmente, ação. Se você está se sentindo perdido na carreira, é o momento de pausar, refletir e traçar novos caminhos. Assuma o controle das suas decisões e desenvolva o protagonismo necessário para alcançar seus objetivos. Nesse processo, a decisão de mudar de profissão pode surgir - uma escolha cada vez mais comum, mas que exige preparação. O primeiro passo para a troca de carreira é garantir uma reserva financeira, especialmente em caso de redução salarial. Flexibilidade é igualmente crucial, já que pode ser necessário dar alguns passos para trás antes de avançar. Mudanças em áreas nas quais você já possui conhecimento podem ser mais benéficas, evitando recomeçar do zero. É vital pensar onde você pretende estar em três ou cinco anos, estabelecendo metas claras e identificando aprendizados necessários. Buscar novos conhecimentos, manter o networking ativo e avaliar tendências de mercado são ações essenciais. Além disso, o autoconhecimento, para compreender os pontos fortes e fracos, é fundamental para aumentar as chances de sucesso em uma nova empreitada. 

Como ter clareza de que esse desejo de mudança diz respeito à vida profissional, a uma nova carreira, e não a outros aspectos da vida que também possam estar em crise?

O autoconhecimento é essencial para fazer escolhas informadas e seguras ao iniciar um novo percurso profissional, permitindo que os profissionais compreendam suas motivações, habilidades e valores. Ao identificar suas paixões e pontos fortes, fica mais fácil destacar-se em áreas onde podem encontrar satisfação, evitando transições impulsivas e garantindo que as escolhas estejam alinhadas com suas aspirações pessoais e profissionais. Além disso, essa compreensão facilita a definição de metas claras e realistas de vida, além de desenvolver um plano de ação que inclua o aprimoramento das habilidades necessárias. 

Para quem busca uma recolocação, qual sua indicação: ter um perfil de especialista ou mais generalista?

Ao invés de seguir modinhas de mercado, o profissional precisa decidir o que ele quer da vida e onde “seus olhos brilham”, pois somente desta forma irá conectar o trabalho com o seu propósito de vida. Toda empresa precisa de dois perfis de profissionais: especialistas e generalistas. Os primeiros costumam seguir uma trajetória de carreira em Y, com foco em conhecimentos mais técnicos, enquanto os segundos tendem a ocupar posições de gestão. Para escolher o melhor caminho, é fundamental desenvolver o autoconhecimento, identificando suas principais competências e habilidades, a fim de direcionar sua construção de carreira.

Isso tem a ver com uma demanda que parece ser mais comum no mercado, que é o de um profissional que saiba atuar em mais de um setor?

O profissional de hoje e do futuro é plural, capaz de se adaptar a diferentes grupos de trabalho, lidar com a diversidade em seus mais variados aspectos e contribuir para o engajamento de equipes distintas. Esse profissional combina múltiplos conhecimentos com uma forte habilidade para solucionar problemas, integrando tecnologia e pessoas para alcançar resultados de excelência. São conhecidos como Nexialistas, e por não dominar todos os temas – o que é impossível –, sabem a quem acionar para dar o direcionamento adequado à demanda. Não é o especialista nem o generalista. Pode-se dizer que o Nexialista estaria no meio dos dois, mas com alto poder de persuasão e conexão entre pessoas.

A Inteligência Artificial despontou nos últimos anos e vem ganhando espaço em diferentes áreas. Como fazer dela uma aliada e não uma ameaça no mercado de trabalho?

A IA pode ser uma poderosa aliada, aumentando a eficiência e a produtividade dos profissionais, permitindo que os trabalhadores se concentrem em tarefas mais estratégicas, criativas e inovativas, além de fornecer insights valiosos por meio da análise de dados. A chave está em encontrar um equilíbrio onde a IA complementa e potencializa as habilidades humanas, em vez de substituí-las, promovendo um ambiente de trabalho colaborativo e produtivo.

Como o profissional deve se preparar para atuar junto à IA?

A tecnologia sempre integrou o mercado de trabalho, mas, com a ascensão da IA, compreendê-la e dominá-la tornou-se essencial para quem deseja se manter relevante em um cenário de constante transformação. Desenvolver habilidades técnicas por meio de cursos online e workshops é fundamental, assim como aprimorar competências interpessoais e a capacidade de adaptação. Com a IA automatizando tarefas repetitivas, profissionais com pensamento crítico, comunicação eficaz e empatia ganham destaque.

Que conselhos você dá para essa moçada hiperconectada - mas sem inteligência emocional, com dificuldade para lidar com a chefia e sem dominar ferramentas de informática básicas - para entrar no mercado de trabalho?

A inteligência emocional é uma competência essencial para profissionais que buscam se destacar, pois permite reconhecer, compreender e gerenciar suas próprias emoções, além de desenvolver empatia em relação aos outros. Em um ambiente de trabalho cada vez mais colaborativo e diverso, essa habilidade facilita a construção de relacionamentos sólidos e a resolução eficaz de conflitos. Esses profissionais não apenas lidam melhor com as pressões diárias, mas demonstram maior resiliência diante das adversidades, características que os tornam ativos valiosos em qualquer organização. Para aprimorar a inteligência emocional é fundamental investir em autoconhecimento e na compreensão das próprias reações emocionais. Buscar feedback de colegas e líderes ajuda a identificar o impacto das emoções no ambiente. Além disso, desenvolver habilidades de comunicação, como escuta ativa e empatia, e participar de workshops especializados oferece ferramentas práticas para fortalecer essas competências. Isso favorece a construção de um ambiente de trabalho mais harmonioso, colaborativo e produtivo.

O mercado passou por um período em que, nas contratações, queria só experiência; depois, só a energia da juventude. O momento agora é de equilíbrio?

O mercado de trabalho tem adaptado suas prioridades de contratação ao longo do tempo. Inicialmente, valorizava-se a experiência e longas trajetórias; depois, a atenção se voltou para a inovação e a energia dos mais jovens. Hoje, busca-se o equilíbrio entre esses perfis, com foco crescente na qualidade de vida e saúde mental. A combinação de experiência e entusiasmo não só torna as equipes mais eficazes, como também promove aprendizado mútuo e engajamento. Até o termo “retenção” não se usa mais: retém-se presos – talentos são engajados. Profissionais mais experientes oferecem conhecimentos e habilidades adquiridos ao longo dos anos, enquanto os jovens contribuem com novas ideias e abordagens. Diante disso, o momento é propício para valorizar tanto a experiência quanto a energia da nova geração.

Apesar disso, a questão do etarismo parece ser ainda muito forte no mercado de trabalho, sobretudo para as mulheres. Como mudar a mentalidade do empregador para abraçar essas profissionais, que segundo estudos estão cada vez mais qualificadas?

As empresas mais estratégicas já reconhecem a necessidade de equilibrar profissionais jovens e engajados com sêniores que trazem experiência e expertise. No entanto, uma pesquisa da Great Place to Work (GPTW) Brasil indica que a inclusão etária ainda é limitada, com apenas 3% de profissionais acima de 60 anos nas 150 melhores empresas avaliadas. É fundamental que a alta gestão implemente práticas para incluir esses profissionais, enquanto eles devem se manter atualizados sobre as novas tendências do mercado. Com a chegada de 2025, é um bom momento para refletir sobre o legado que queremos deixar: uma empresa diversa e inclusiva ou uma que valoriza apenas resultados imediatos. Por outro lado, é pertinente que os que estão em idade mais avançada se mantenham atualizados quanto às melhores práticas de mercado e atentos às novas tendências e tecnologias, para não se tornarem obsoletos. Ao final, as empresas precisam entregar seus resultados seja com os mais novos, seja com os mais velhos.

Na gestão anterior, você era Conselheiro Executivo da ABRH-MG. Agora, ficará na presidência pelos três próximos anos. Quais os desafios dessa jornada?

O mundo está em constante transformação e é preciso imprimir o mesmo ritmo na ABRH-MG. Nosso foco será fortalecer as conexões humanas, impulsionar resultados com performance e trazer disrupção para a gestão de pessoas, sempre conectando com os CEOs, que precisam chancelar os RHs. Estamos em um momento crucial para alinhar estratégias de capital humano aos desafios empresariais de forma simples e objetiva, garantindo que Minas Gerais se mantenha na vanguarda da gestão de talentos no Brasil.

Em muitas empresas, Recursos Humanos parece ser apenas uma mudança de nome em cima do antigo Departamento de Pessoal. Existe realmente essa mentalidade de RH nas empresas? Como fazer os empregadores entenderem que RH é mais do que um setor? Quais os ganhos dessa virada de chave?

A área de RH desempenha um papel estratégico essencial nas empresas, gerenciando o capital humano, um dos ativos mais importantes de qualquer organização. Uma gestão eficaz de RH fortalece a cultura organizacional, alinhando os valores e objetivos da empresa com as expectativas e motivações dos colaboradores. Isso resulta em maior engajamento, satisfação no trabalho e, consequentemente, melhor desempenho e produtividade. Empresas sem um RH estratégico e profissionais qualificados estão destinadas ao fracasso em pouco tempo, pois, em qualquer organização, os resultados dependem das pessoas.

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