Autoridades iranianas tentam frear depreciação da moeda

AFP
06/10/2012 às 14:07.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:51

TEERÃ - As autoridades iranianas tentaram frear a depreciação do rial, que perdeu 40% de seu valor esta semana, impondo neste sábado (6) aos cambistas oficiais uma taxa fixa para o dólar, mas não conseguiram que voltasse à calma em um mercado instável.

Os cambistas de Teerã se recusaram a aplicar esta taxa, considerada irrealista. "Recebemos a ordem da Associação de Cambistas (controlada pelo Banco Central) de comprar o dólar a 25.000 riais e vendê-lo a 26.000, mas ninguém quer trabalhar com este câmbio e não fazemos transações", indicou um cambista à AFP.

A moeda iraniana perdeu 40% em uma semana contra as principais divisas. Na quarta-feira caiu a 36.000 riais por um dólar, o que provocou confrontos no centro de Teerã, onde os cambistas e comerciantes fecharam suas lojas por dois dias.

As casas de câmbio abriram neste sábado, mas não faziam operações, constatou a AFP. O mercado de moedas de ouro estava suspenso.

O site da Associação de Cambistas anunciava um câmbio de cerca de 28.000 riais, mas vários sites especializados suspenderam neste sábado a cotação das principais moedas.

Nas ruas, alguns cambistas ilegais propunham cerca de 30.000 riais por dólar.

A taxa bancária oficial da moeda americana é de 12.600 riais, mas esta taxa fixa, sem mudanças há vários meses, está reservada a algumas administrações ou empresas de setores considerados essenciais para a economia iraniana.

As outras empresas e pessoas físicas precisam conseguir moedas no mercado paralelo.

O Irã enfrenta há vários meses uma crescente escassez de moedas que impede o Banco Central de sustentar o rial no mercado livre, consequência das sanções bancárias e petroleiras ocidentais cada vez mais severas por seu programa nuclear.

A depreciação do rial provocou na quarta-feira manifestações espontâneas no centro de Teerã que levaram a confrontos com as forças de ordem, que anunciaram a prisão de 16 pessoas.

Neste sábado, a situação era normal, mas o valor do rial dos últimos dias provocou uma alta imediata de muitos produtos importados e inclusive de alguns de origem local.

Um desodorante corporal importado vendido a 68.000 riais na quarta-feira estava anunciado por 105.000 riais neste sábado em uma loja especializada, constatou a AFP.

Outra loja se recusou neste sábado a vender uma geladeira de marca asiática, que passou de 10 para 20 milhões de reais em um mês, à espera de que "os preços se estabilizem", segundo uma testemunha ouvida pela agência Fars.

Esta nova degradação brutal da situação dos preços reavivou o descontentamento palpável há vários meses na população, que vê nestes acontecimentos o resultado das sanções internacionais contra o Irã, mas também a má gestão da situação por parte das autoridades.

Os preços dos produtos importados duplicaram ou triplicaram desde o início do ano devido à depreciação da moeda iraniana, que perdeu 60% de seu valor em um ano, mas o dos produtos locais de consumo, em especial alimentícios, também seguiram a mesma tendência.

"Em março, pagávamos 1,5 milhão de riais todas as semanas para comprar verduras, neste verão eram 2 milhões, e na sexta-feira 3 milhões", queixou-se neste sábado um pai de família entrevistado pela AFP.

Vários funcionários do regime criticaram nesta semana a gestão do governo do presidente Mahmud Ahmadinejad, que se defendeu culpando as sanções ocidentais, mas também as intervenções de outros setores do poder, como o Parlamento.

Mas apesar da insatisfação crescente da população e das tensões provocadas pelo regime, "não há evidências hoje de que nos aproximamos do ponto de ruptura", considerou Cliff Kupchan, analista do Irã do Eurasia Group, um centro americano de avaliação de riscos políticos para empresas.

A repressão dos movimentos de protesto e a previsível transformação da economia em um sistema cada vez mais estatizado ameaçam mais a estabilidade do Irã a longo prazo, considerou em uma análise divulgada na sexta-feira.

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