Em três anos, a Avenida Paulista ganhará mais um centro cultural. Conhecido por guardar desde 1992 um rico acervo de fotografia, artes plásticas, música e literatura, o Instituto Moreira Salles (IMS) terá sua sede paulistana na mais famosa avenida da cidade, entre as Ruas Bela Cintra e Consolação. O novo espaço terá três andares para exposições, um cinema, um restaurante e um café.
Entidade sem fins lucrativos, o IMS tem hoje três centros culturais: em São Paulo, no Rio e em Poços de Caldas (MG). Na capital paulista, entretanto, o endereço, em Higienópolis é um tanto acanhado: tem uma galeria de cerca de 240 metros quadrados, contra os 1,2 mil metros quadrados destinados à função no novo prédio. "O terreno já era do instituto desde 2003. Há alguns anos estávamos planejando essa construção", explica Flávio Pinheiro, superintendente do IMS. Nesse meio tempo, funciona um estacionamento no local.
Concurso
Em 2011 foi lançado um concurso para eleger o melhor projeto arquitetônico. "Queríamos arquitetos brasileiros, mas que ainda não fossem medalhões", diz Pinheiro. "A ideia era privilegiar a nova arquitetura brasileira que está surgindo e que é muito interessante." Levou a melhor o escritório Andrade Morettin Arquitetos.
Após anos em que as poucas pedras de construção na Paulista eram os seixos rolados colocados nas floreiras dos edifícios, esta não deve ser a única obra em andamento na avenida. Houve um boom imobiliário nos anos 1980 e duas décadas praticamente sem novidades - exceções são o Condomínio CYK (inaugurado em 2003) e a Torre João Salem (de 2009). Agora, há quatro empreendimentos sendo erguidos na avenida.
A sede do Instituto Moreira Salles deve valorizar muito a localização, o "estar na Paulista". Tanto que o projeto prevê uma escada rolante de 15 metros de altura, ligando o "meio" do prédio até o nível térreo. "Chamamos isso de térreo elevado. Será uma praça no meio do edifício, por onde o percurso pelo centro cultural efetivamente deve começar", conta o arquiteto Marcelo Morettin. "Nossa preocupação é integrar o prédio com o entorno. Não queríamos que ele se fechasse para a cidade."
Intelectuais nacionais e estrangeiros acreditam que a Avenida Paulista, tida como o maior centro financeiro do País, deve cada vez mais explorar sua vocação cultural. "Acho fantástica a ideia de que a avenida se torne um polo de criatividade no Brasil", comentou o sociólogo italiano Domenico De Masi, em conversa com o jornal O Estado de S. Paulo ocorrida no mês passado, quando ele visitava a cidade.
Projeto
Dono de um acervo de 800 mil imagens, 100 mil fonogramas, 1,2 mil obras de iconografia do século 19 em papel e 400 mil documentos e livros de arquivos pessoais de escritores e pensadores, o instituto não vai ter falta de material para ser exibido no prédio da Paulista. Além das exposições, o cinema deve ser incorporado à agenda cultural paulistana, já que vai servir tanto para mostras específicas como, planeja-se, entrará para o circuito de filmes de arte.
"Também nos preocupamos em planejar o edifício de modo que não ficasse um museu burocrático", afirma o arquiteto Morettin. A equipe encarou como um desafio o fato de o terreno ser considerado pequeno para um edifício com essas funções - são 20 metros de frente por 50 metros de fundo. "Forçosamente, acabamos tendo de resolver o prédio verticalmente", complementa. "Mas com a ideia da praça no meio do edifício, o percurso a pé pelos espaços expositivos se torna perfeitamente agradável e possível."
Morettin conta que foram dois meses para preparar o estudo preliminar do projeto, em 2011, a fim de participar do concurso. Uma vez escolhidos, os arquitetos do escritório ganharam o reforço de consultores e engenheiros e se dedicaram ao longo de 2012 para concluir o projeto. "Acredito que o importante foi termos partido de uma premissa de que era preciso valorizar a efervescência cultural que já existe na Paulista, com fluxo constante de todo tipo de gente", avalia Morettin.
Tanto tempo depois, falta pouco para a obra sair do papel. O IMS corre atrás das últimas pendências burocráticas no Poder Público. A expectativa é de que a construção comece ainda neste semestre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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