Pesquisas desenvolvidas em universidades públicas trazem alento, mas precisam de recursos
Dia Mundial do AVC é celebrado em 29 de outubro (Freepik)
Doenças cardíacas lideram as causas de mortes em todo o mundo, seguidas pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC). Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS), que avaliou dados de 2002 e 2019 em todos os países. Os óbitos, muitas vezes, poderiam ter sido evitados.
De acordo com estudo realizado pelo Instituto Karolinska, da Suécia, quatro em cada cinco infartos em homens poderiam ser evitados. Como? Praticando atividades físicas, comendo frutas e legumes, abandonando o cigarro e o álcool. Em relação ao AVC, 90% são preveníveis, segundo a Organização Mundial do AVC. Para isso, não existe uma fórmula mágica: é preciso controlar fatores de risco, como hipertensão, diabetes, tabagismo, e manter uma alimentação saudável, aliada à prática de atividades físicas.
De acordo com o Ministério da Saúde, as pessoas devem ficar atentas aos primeiros sinais do AVC e procurar ajuda médica imediatamente caso apareçam:
Procurar ajuda médica é essencial ao notar os sintomas destacados pelo Ministério da Saúde:
Pesquisas desenvolvidas em universidades brasileiras renovam as esperanças em relação a diagnósticos e tratamentos do AVC e do infarto. Algumas delas estão descritas a seguir
Na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), o biomédico e neurocientista Wallace Gomes desenvolve o primeiro neuroprotetor do mundo, para o tratamento de AVC. De acordo com o pesquisador, quando há uma lesão provocada pelo AVC, os neurônios e outras células do cérebro ficam sem oxigênio devido à parada abrupta do fluxo sanguíneo e, também, sem nutrientes.
Com isso, os neurônios começam a morrer e isso gera uma área de infarto logo nas primeiras horas, chamada de lesão primária. “Com o tempo, essa lesão primária se expande. Ela cresce de tamanho, devido a fatores secundários, como inflamação exagerada, acúmulo de aminoácido e aminoácidos excitatórios. Se houvesse um medicamento capaz de evitar a expansão da lesão primária, as sequelas neurológicas seriam menores. É o que o neuroprotetor faz. Ele pode evitar a expansão da lesão primária e o agravamento das sequelas neurológicas. Inclusive, nós estamos desenvolvendo o neuro, o protetor natural derivado de uma planta que é muito usada na Amazônia”, detalha Gomes.
O neuroprotetor da Ufopa está em fase de testes em animais e, em breve, poderá ser testado em seres humanos. Se aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a expectativa é que em cinco anos o produto chegue ao mercado.
Uma das principais autoridades brasileiras sobre o AVC trabalha na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Trata-se da neurologista Eva Rocha, pesquisadora que lidera estudo, financiado pelo Ministério da Saúde, que busca descobrir a pressão ideal para pacientes que já tiveram AVC. Outras pesquisas concluídas por Eva Rocha renovam a expectativa de dias melhores para evitar e tratar o AVC.
“A gente tem uma causa de AVC que é mais comum em pessoas jovens, que é a síndrome de vasoconstrição cerebral reversível. No período em que eu estive em Harvard, desenvolvemos um escore diagnóstico, para identificar essa síndrome com os critérios clínicos e de imagem”, explica a professora.
A professora da Unifesp também conseguiu evidenciar, em estudo nacional, a maior incidência de mortes por AVC entre as pessoas mais pobres, em geral concentradas nas regiões Norte e Nordeste do país.
Ela faz um alerta: enxaquecas e traumas no pescoço podem desencadear o AVC. “Um fator que pode aumentar o risco de AVC e, que às vezes, as pessoas não conhecem é a enxaqueca. Quem tem enxaqueca, principalmente, a enxaqueca com aura, que provoca alterações visuais, pode ter um risco maior de ter AVC", afirma.
Na UFMG, uma importante descoberta aguarda recursos para, finalmente, chegar ao mercado. Trata-se do resultado de estudo liderado pelo farmacêutico e biólogo Rodrigo Rezende, professor do Instituto de Ciências Biológicas, que desenvolveu biomarcadores para identificar um infarto em menor tempo e com menor custo.
Ainda em Minas Gerais, na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), o químico Luciano Rodrigues dá continuidade ao estudo de biossensores para o diagnóstico do infarto, desenvolvidos durante seu mestrado na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ele também aguarda investimentos e recursos financeiros para o produto chegar ao mercado e, finalmente, ajudar a salvar vidas.
De acordo com Rodrigues, “os processadores ou sensores biológicos são dispositivos portáteis sensíveis de baixo custo, que podem ser utilizados para diagnóstico de várias doenças. No caso do infarto agudo do miocárdio, esse diagnóstico pode ser feito na própria residência ou em outro local onde a pessoa estiver sentindo sintomas, de modo a verificar os biomarcadores de maneira rápida e acessível”.
Estudos sobre biomarcadores também têm rendido reconhecimento aos pesquisadores mineiros. É o caso da doutora em Ciências Laíse Resende, da UFU, premiada durante o Congresso Canadense de Cardiologia. Os biomarcadores desenvolvidos por ela – em fase de patenteamento – diminuem o custo e o tempo laboratorial de identificação do infarto.
"Desenvolvemos o biossensores para detecção e quantificação de moléculas para que o infarto do miocárdio seja detectado de forma precoce e a proposta terapêutica seja administrada de forma bem mais precoce do que é instituído hoje com os métodos convencionais. O biossensor ou um biomarcador é um dispositivo que vai responder de uma forma seletiva a um alvo particular, para identificar uma questão específica. Se a identificação do infarto por biossensores for realizada de forma precoce, a gente tem um melhor prognóstico desses pacientes.", diz Laíse.
Apesar de abrigar muitos estudos promissores para o diagnóstico e tratamento do infarto e do AVC, as universidades precisam de mais recursos financeiros e apoio para que as descobertas cheguem à população. O professor Rodrigo Resende pede mais atenção às universidades públicas:
* Reportagem da Rádio UFMG Educativa
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