(Carlos Henrique)
A tradição de tirar, ou pelo menos reduzir, a carne vermelha no cardápio durante o período da Quaresma vai pesar mais no bolso do consumidor, neste ano. Um dos ingredientes que deixou a troca mais salgada foi justamente o dólar, já que boa parte dos pescados e acompanhamentos é importada.
No início de fevereiro do ano passado, a moeda norte-americana era cotada a R$ 2,70. Atualmente, bateu na casa dos R$ 4, o equivalente a uma alta de 48%, que será repassada integral ou parcialmente para o freguês.
Considerado a estrela da Semana Santa, o bacalhau saithe está 40% mais caro neste ano, na comparação com a mesma época em 2015, segundo levantamento do site Mercado Mineiro.
De acordo com a pesquisa realizada neste mês em supermercados, lojas do Mercado Central e peixarias da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o maior preço encontrado pelo produto foi de R$ 69,90, o quilo. Já o mais barato sai por R$ 45,90, uma variação de R$ 53%.
Nobreza do porto
No caso do bacalhau porto imperial, um produto ainda mais nobre, o preço variou 20% – entre R$ 74,90 e R$ 89,90.
Entre fevereiro do ano passado e o mesmo mês deste ano, a iguaria ficou quase 16% mais cara. Para o diretor executivo do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, o câmbio foi determinante para a escalada dos valores.
“A alta do dólar exerceu pressão sobre os preços dos importados e deixará ainda mais difícil para a dona de casa a tarefa de levar o bacalhau e alguns peixes para a mesa da família”, afirma.
Um dos proprietários do Império dos Cocos, Antônio Sérgio Tavares, diz que o impacto do dólar é concreto.
“Tudo o que é importado ficou mais caro. O que fizemos foi reduzir a margem de 50% para 20%, como no caso do bacalhau, por exemplo, para tentar ganhar na quantidade. Também estreitamos as negociações com os fornecedores. Ainda assim, é inevitável que os produtos fiquem mais caros”, admite.
Fundada em 1962, a loja do Mercado Central tem à disposição do freguês desde o bacalhau tipo saithe, que sai entre R$ 24 e R$ 29, o quilo, dependendo da espessura, até o porto, que custa R$ 84, o quilo.
Tilápia é exceção e fica 32% mais barata em 2016
Um dos raros pescados cujos preços caíram, a tilápia está 32% mais em conta neste ano, na comparação com 2015. No entanto, é preciso pesquisar. O valor chega a variar 209% entre os estabelecimentos pesquisados. Mas trata-se de uma exceção.
Comer filé de merluza, por exemplo, que é um peixe importado, também vai exigir mais do orçamento durante a Quaresma. Em um ano, o preço disparou 42%. Segundo a pesquisa do Mercado Mineiro, o quilo desse pescado chega a custar R$ 29,90. Já o valor encontrado mais em conta foi de R$ 14,90, o que dá uma diferença de 100%.
“Não tem jeito. Chega nesse época do ano, todos os produtos que compõem a cesta da Quaresma aumentam. É o Natal dos peixeiros”, diz a sócia da peixaria São Francisco, Léia Ribeiro.
No estabelecimento do bairro Bonfim, o filé de merluza custa R$ 14,90, o quilo. Já o piratinga sai por R$ 17,90. Se a opção for salmão, prepare a carteira. O produto fresco é comercializado a R$ 48,90, enquanto o congelado, a R$ 36,90. No ano passado, os mesmos produtos eram vendidos por R$ 39,37 e R$ 28,90, respectivamente.
Na Peixaria Modelo, no Mercado Central, a expectativa também é de vendas aquecidas. “Esperamos um crescimento de 25%, em média, e pico de 50% na Semana Santa”, diz o proprietário Alfredo Suarez.
Neste ano, entretanto, a crise deve empurrar os brasileiros para opções que exigem um desembolso menor. “Peroá e filé de panga, por exemplo, estão custando R$ 17,90. São sucessos entre a freguesia”, diz.
Para quem pode gastar mais, a sugestão dele é badejo ou robalo em postas, vendidos por R$ 69,90, o quilo.