Banco de tecidos conserva calotas cranianas no Rio

Fábio Grellet
15/04/2013 às 20:24.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:51

Um dos recursos para socorrer vítimas de traumatismo craniano, isquemia cerebral e outros problemas que afetam o cérebro é a retirada da calota craniana. Para reduzir a pressão interna ou ter acesso à área afetada, parte do osso é cortada e então é preciso guardá-la em algum lugar que permita sua conservação adequada.

A alternativa usual é costurar o osso dentro do abdômen do próprio paciente, em uma área entre a pele e o músculo onde não há contato com órgãos internos. Segundo os médicos, porém, esse procedimento aumenta a duração e os riscos da cirurgia. Desde o fim de 2012, o Banco de Tecidos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), no Rio, recebe e conserva, à temperatura de 80ºC negativos, calotas cranianas retiradas de pacientes dos hospitais Municipal Miguel Couto e Federal de Ipanema. É o primeiro banco de tecidos totalmente público do País a armazenar calotas cranianas.

A parceria entre o Into e esses dois hospitais já permitiu o armazenamento de 36 calotas cranianas. Oito foram reimplantadas e 24 continuam conservadas. As outras quatro foram descartadas, porque os pacientes morreram. "A calota só pode ser reimplantada no próprio dono, por questão de anatomia e compatibilidade de tecidos", conta o neurocirurgião Rui Monteiro. Ele trabalha no hospital Miguel Couto e convivia com o chefe do Banco de Tecidos do Into, Rafael Prinz. "O procedimento de guardar a calota no próprio paciente gera vários problemas, entre eles maior chance de infecção. Além disso, com o tempo, a calota começa a ser absorvida pelo organismo e diminui de tamanho", diz o neurocirurgião. "Nesses casos a calota é descartada e o paciente precisa de outra peça, feita artificialmente", conta Rui.

Uma calota artificial pode custar até R$ 120 mil, dependendo do material usado e da precisão anatômica. "Para melhorar a conservação das calotas e reduzir riscos aos pacientes, propus uma parceria com o Banco de Tecidos do Into, que foi oficializada. Agora a chance de perda das calotas é menor", diz o neurocirurgião. Logo a parceria passou a englobar o Hospital Federal de Ipanema. Recentemente alçado a coordenador de neurocirurgia do município, Rui agora negocia a extensão da parceria a três hospitais municipais do Rio: Salgado Filho, Souza Aguiar e Pedro 2º.

Quando a calota é cortada, técnicos do Into vão ao hospital para recolher os ossos, inicialmente acondicionados em bolsas térmicas. Quando chega ao Banco de Tecidos, a calota é embalada e mantida a -80ºC. A temperatura é verificada a cada oito horas. Por lei, as calotas podem ficar armazenadas por até cinco anos. Quando o paciente se recupera, o osso é reinstalado. "Normalmente são necessários de 30 a 90 dias para o crânio desinchar e a calota ser reimplantada", conta o neurocirurgião Rui. "Conservar no banco de tecidos não é garantia de que a calota não vá infeccionar", alerta o médico. "Mas as condições de armazenamento são muito melhores, e a chance de haver algum imprevisto é menor", conclui.
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