(Victor Schwaner/Divulgação)
Victor Schwaner/Divulgação
A vocalista e guitarrista Andrea Cópio lidera o grupo Ramona & The Red Vipers
Pouca gente sabe, mas o rock’n’roll não foi criado por Chuck Berry nem por Elvis Presley. O crédito do pioneirismo é de uma mulher: a norte-americana Sister Rosetta Tharpe. Cantora, compositora e guitarrista, foi ela, nos anos 40, a primeira a delinear o ritmo que mais tarde explodiria em todo o mundo. Ao que pese o apagamento da memória histórica, causado por registros que privilegiaram o protagonismo masculino, Sister Rosetta é uma entre várias evidências da potência das mulheres no rock.
De Etta James a PJ Harvey, de Joan Jett a Patti Smith, de Janis Joplin a Rita Lee – são muitas as mulheres que driblaram os obstáculos do machismo estrutural para fazer história no estilo. Em Belo Horizonte, a luta feminista e a distorção das guitarras se juntam em várias bandas capitaneadas ou formadas apenas por mulheres.
É o caso de Bertha Lutz, grupo de hardcore formado por cinco artistas mulheres e ativo na cena independente da capital desde 2006. “Passamos os últimos anos fortemente articuladas com a militância feminista autônoma e LGBT, trazendo como ponto central dos nossos shows as bandeiras lésbicas, feministas, antirracismo, anti-transfobia e anti-capitalismo”, conta a artista. Filipa Andreia/Divulgação
Criada por Marcela Lopes (baixo e vocal), Célia Regina (guitarra) e Bruna Vilela (guitarra), a Miêta é um dos grandes destaques da produção contemporânea de rock em BH
Para Bárbara Fraga, a música protagonizada por homens sempre foi apresentada como a única possibilidade no rock – o que está longe de ser verdade. “Quando não temos a referência de mulheres, caímos na armadilha da história única e não conseguimos nos enxergar nesses espaços”, pontua.
“Para mim, foi transformador ver uma mulher tocando hardcore. Se a gente não se vê no palco, não imagina que é possível estar ali”, completa, ressaltando a influência da banda brasiliense Dominatrix.
Guitarrista da banda Miêta, outro importante farol da cena de BH, Bruna Vilela faz coro. “Quando temos mulheres na música, nos sentimos pertencentes àquele espaço e muito menos intimidadas diante do machismo”, afirma, citando outros bandas da capital, como Pata e Não-Não Eu.
“Os desafios são a falta de credibilidade, a necessidade de se provar o tempo inteiro, a falta de espaço, o assédio. Mas a potência de manter uma banda de mulheres é maior. Diz sobre encontrar um lugar seguro em que você tem voz e pode expressar a sua subjetividade, sobre ter vivências incríveis com outras mulheres e aprender a tomar o seu lugar no mundo com elas”.Natália Bandeira/Divulgação
Fortemente ligada à militância feminista autônoma e LGBT, a banda de hardcore Bertha Lutz já soma 13 anos de trajetória na cena independente do rock mineiro
Líder da banda Ramona & The Red Vipers, a cantora e guitarrista Andrea Cópio relata, inclusive, recente vivência entre mulheres roqueiras. “Neste ano, participei do Girls Rock Camp Brasil, acampamento diurno, de férias, só para meninas. Tem aulas práticas de música, palestras, oficinas. Lá, eu vi a vontade das meninas de tocar, de fazer música, de dizer o que sentem”, relata. “Tive a certeza de que as garotas da nova geração já estão lá na frente. Elas já sacaram que o futuro é feminino, e isso é muito emocionante”.
Cópio defende que as mulheres do rock devem superar a descrença alheia e manterem-se verdadeiras em seus propósitos artísticos. “Ser mulher é algo muito amplo, em suas próprias peculiaridades. E essa forma de se expressar é nossa e ninguém pode nos tirar”, reflete. “A mulher tem uma força criadora, geradora, que é colossal. Quando essa força é colocada para fora, é contagiante”.