BH ignora modelo e faz a mais despolitizada eleição

30/09/2016 às 23:26.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:03

Depois de 45 dias de uma curtíssima campanha eleitoral, Belo Horizonte vai às urnas, neste domingo (2), com um cenário praticamente definido, sinalizando para um duelo final e pessoal, de segundo turno, entre os candidatos João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS). De todo os indícios de atipicidade até aqui identificados, um deles é o principal responsável pelo baixo nível do debate sucessório e de resultados. Será, ao final, a eleição mais despolitizada da história política da capital mineira. Ao romper com o modelo tradicional, tudo pode acontecer.

A despolitização é o resultado desse ambiente antipolítico do qual o maior beneficiário foi o estreante Alexandre Kalil, que, mesmo sem tempo de televisão (20 segundos) e sem propostas objetivas, consegue manter-se em segundo lugar e chegar ao segundo turno na terceira capital do país em importância política. O último debate entre os candidatos, então, expôs a falta de propostas e a desqualificação geral. Optaram pelo bombardeio generalizado em desfavor das propostas de gestão sobre os principais problemas da cidade e região (Grande BH).

Não foi à toa que, durante toda a campanha, apenas dois candidatos se sobressaíram dos demais, exclusivamente, por conta do alto índice de conhecimento entre todos. João Leite, o mais conhecido, chegou lá por isso e por ter incorporado o antipetismo; Kalil juntou a fama com o sentimento de quem está com raiva da política. Candidatos como Reginaldo Lopes (PT), Rodrigo Pacheco (PMDB) e Délio Malheiros (PSD), que tinham posições ideológicas e programáticas para exibir, não tiveram espaço nem foram ouvidos.

As pessoas não estavam interessadas nessa discussão. Toda vez que Kalil era confrontado politicamente, por exemplo, ele puxava o conflito para a despolitização e seu argumento era o que mais viralizava nas redes sociais. Em um dos debates, ele foi cobrado por Délio pela inadimplência junto à Prefeitura, por conta de dívidas com o IPTU, que, somadas, poderiam bancar 10 mil mamografias. O candidato do PHS rebateu dizendo que o rival teria fracassado na missão de cuidar de 50 capivaras na Lagoa da Pampulha. "Morreram 20; quem não sabe cuidar de capivara, não sabe cuidar de gente", reagiu ele, e foi o comentário mais curtido nas redes. O eleitor gostou de ver o desafiante "bater em político".

Câmara de BH será pulverizada

Outro fator que colaborou para a despolitização da eleição de Belo Horizonte foi a ausência dos candidatos a vereador do debate e da campanha. Pela primeira vez, eles ficaram de fora do horário gratuito eleitoral, sobrando apenas o gogó e o corpo a corpo para buscar o voto.

Nessa difícil missão, novamente, os candidatos mais conhecidos terão mais chances, até mesmo sobre aqueles que têm mais dinheiro do que o concorrente. De tudo somado, a previsão é que a próxima Câmara de Belo Horizonte deverá contar com a presença de mais de 25 partidos em sua futura composição, numa pulverização inédita. Nenhum partido deverá ter mais de 3 vereadores.

Na Câmara dos Deputados, há 28 partidos em um ambiente de difícil articulação que desfavoreceu a governabilidade da então presidente Dilma Rousseff (PT). O futuro prefeito de Belo Horizonte viverá desafio semelhante para obter governabilidade a partir de janeiro próximo.

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