Boataria on-line cria alarme sobre mutação e eficácia da vacina contra febre amarela; entenda

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
27/02/2018 às 14:34.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:36
 (Fiocruz/Reprodução)

(Fiocruz/Reprodução)

A onda de áudios e mensagens sobre febre amarela supostamente atribuídos a médicos que invadiu o WhatsApp nos últimos dias preocupa a Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), que classifica as mensagens como "boatos sem nenhuma verdade científica". Há rumores sobre mutações do vírus que minariam a eficácia da vacina, internações em massa seguidas de óbitos "em menos de 12 horas" e até recomendações para "repelente no cabelo". A entidate alerta que, além do combate à desinformação, a vacina continua sendo a principal arma contra a doença.

Um dos áudios coloca em xeque a eficácia da vacina e alega que pessoas imunizadas estão contraindo - e até morrendo - com a doença. O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano Silva, explica que um estudo realmente identificou mutação no vírus da febre amarela. Porém, conforme ele, a pesquisa foi mal interpretada por leigos e até por alguns médicos. 

De acordo com Urbano, as mutações ocorreram em partes do vírus que não são usadas para fazer a vacina. "As proteínas virais utilizadas para fazer a vacina continuam imutáveis. Com isso, a vacina continua extremamente efetiva", atestou. 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pelo estudo que identificou a mutação, também esclarece que as mudanças genéticas no vírus identificadas no país não afetam a população e que boatos envolvendo o nome do instituto prestam um desserviço para o Brasil. "Não há qualquer impacto destas mutações para a eficácia da vacina", atesta a Fiocruz.

Em nota enviada à reportagem, a Fiocruz informa que "os pesquisadores explicam que o imunizante adotado atualmente protege contra genótipos diferentes do vírus, incluindo o sul americano e o africano. Além disso, as alterações detectadas no estudo não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para o funcionamento da vacina.

Questionada sobre os áudios que "denunciam"  internações e óbitos em massa na capital, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMSA) informou que, até esta terça-feira (27), três moradores da capital morreram por causa da doença, mas nenhum pegou febre amarela na cidade. A última morte pela doença foi confirmada em janeiro.

Mutação do vírus não reduziu eficácia da vacina contra febre amarela, garantem Fiocruz e Sociedade Brasileira de Infectologia

  

Quem já vacinou pode contrair a doença?

O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia observa que a proteção da vacina contra febre amarela é superior à imunização de outras doenças. A eficácia, conforme ele, é de aproximadamente 98%. "Não há motivo para pânico da população. Basta se imunizar", recomenda. Até o momento, não há registro confirmados de mortes de vacinados contra febre amarela.

"Existe a volta obsessiva do uso do repelente porque as pessoas estão com medo da vacina. Mas a vacina por si só é eficiente", explica o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia

Devo usar repelente mesmo após vacinado?

Estevão Urbano Silva garante que a vacina, por si só, já é eficiente para se proteger da febre amarela. Mesmo assim, ele explica que o repelente pode ser usado como um complemento. "É uma medida extra, já que a eficácia é de 98%"", orientou.

Em um dos áudios que rodam os grupos de WhastApp, a orientação é de que o repelente seja usado nas roupas e até no cabelo. O especialista, porém, explica que essas medidas não são necessárias. Segundo ele, o repelente tem que ser aplicado somente na pele, especialmente nas áreas expostas.

Há vários tipos de repelente sendo comercializados no mercado. Diferentemente do que circula em um dos áudios, não são apenas os feitos a base de icaridina que são eficazes. "Cada um tem uma especificidade, como tempo de exposição, possibilidade de usar em crianças abaixo de 2 anos. O correto é consultar a orientação do fabricante", observa o médico.

E quem não pode vacinar?

A orientação do presidente da SMI é que pessoas não imunizadas não frequentem ou visitem áreas de risco, como matas e locais onde o vírus está circulando. Quem não tem como fugir destes locais deve tomar alguns cuidados, como usar repelente constantemente, usar roupas compridas, proteger a casa com telas nas janelas e evitar criadouros dos mosquitos.

Ainda conforme o especialista, quem mora em áreas de risco e não tem indicação para receber a vacina deve consultar um médico. "O benefício da vacina supera os efeitos colaterais", garante.
 Prefeitura de Nova Lima/Divulgação

Confira abaixo os esclarecimentos da Fiocruz sobre algumas boatos que circulam em redes sociais sobre a doença:

Recebi um áudio que afirma que a vacina contra febre amarela é ruim e nociva. Isso é verdade? 
O que esse áudio afirma não é verdadeiro. A vacina é de boa qualidade sim, possui certificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e também é exportada pelo Brasil para outros países. A Fiocruz é uma das maiores produtoras mundiais desse imunizante. A vacina deve ser tomada por todas as pessoas que constam na indicação do Ministério da Saúde para serem imunizadas.

É verdade que estão morrendo mais pessoas em decorrência da vacina do que propriamente de febre amarela?
Não é verdade. Os riscos por não tomar a vacina são maiores, já que a pessoa fica sem uma das principais formas de prevenção contra a doença.

Um áudio informa que a vacina pode causar doenças anos após ser tomada, doenças no fígado e rins. Isso é verdade?
Não é verdade. Não existe qualquer evidência científica que aponte que pessoas tiveram problemas no fígado ou rins devido à vacina. Essas doenças podem ocorrer em diversas situações e não devem, em hipótese alguma, servir de argumento para as pessoas deixarem de se vacinar.

Existe alguma possibilidade de quem tomou a vacina contrair a doença devido ao imunizante, já que o vírus utilizado é atenuado?
A febre amarela é evitada por uma vacina extremamente eficaz e segura, feita com o próprio vírus vivo e atenuado. Após a aplicação são comuns sintomas leves como dores musculares, de cabeça e febre, porém são muito raros os relatos de efeitos secundários graves da sua aplicação, como a doença viscerotrópica aguda (DVA). Semelhante à própria febre amarela, estima-se que sua ocorrência seja de um caso de DVA para cada 400 mil doses da vacina. A frequência de eventos neurológicos após a vacinação (meningoencefalite, síndrome de Guillain-Barré e doença autoimune com envolvimento de sistema nervoso central ou periférico) também é rara. Estima-se a sua frequência em um caso para 100 mil doses.

Tomei a vacina há mais de 10 anos. Preciso tomar novamente?
Segundo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), seguida pelo Ministério da Saúde (MS), basta apenas uma dose da vacina padrão para estar protegido. Se você tomou a vacina há mais de 10 anos, foi vacinado com a dose padrão. 

A vacina da febre amarela garante a imunidade em 100%?
Estudos mostram que a taxa de soroconversão da vacina em indivíduos previamente soronegativos é muito alta, sendo igual ou superior a 98%. A eficácia da vacina contra febre amarela é demonstrada através de observações de mais de 60 anos de bons resultados no Brasil e em outros países da América do Sul.

Costumo consumir mel e própolis produzidos em Minas Gerais. Há algum risco de contrair febre amarela?
A febre amarela é transmitida a partir da picada do mosquito vetor da doença. O consumo de mel e própolis, ou de qualquer outro alimento, não oferece riscos no que se refere à febre amarela e nem há evidências de que oferece alguma proteção.

A ingestão de própolis ajuda a proteger contra a febre amarela?
Não. Não existem estudos científicos que indiquem que o própolis é um imunizante contra a febre amarela. São rumores sem nenhum embasamento científico.

Especialistas da Fiocruz tiram dúvidas sobre a doença. Veja no vídeo abaixo:

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