Bosmans na voz de Lígia Ishitani

29/03/2016 às 17:13.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:41

Recordar a obra de Arthur Bosmans (1908-1991) é realçar uma das mais célebres personalidades da música erudita no Brasil.

De nacionalidade belga, é natural da Antuérpia. Dotado de plúrima vocação artística, encontrou na pintura forte motivação, expressada sob elogios. Apreciava, também, os desafios do mar, tendo ingressado na marinha da sua terra, aos 17 anos de idade. Mas, na música, sua primordial opção, identificou a verdadeira razão que o impulsionou ao elevado patamar de virtuosíssimo compositor e regente.

Naturalizou-se brasileiro escapando do nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial. Logo assumiu as titularidades das Orquestras Sinfônicas da Hora do Brasil; do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Brasileira. Em 1945, a convite do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, organizou e dirigiu o processo de criação das Sinfônicas Municipal e Estadual de Minas Gerais.

Conhecido por suas primorosas valsas e outras páginas, teve as respectivas partituras divulgadas pelo maestro Oilian Lanna, cuja sensibilidade muito contribuiu para que grandiosa arte fosse projetada brilhantemente. Meritório empenho da esposa Walquíria Bosmans, considerada ícone da nossa cultura.

Recentemente, pela voz da jovem soprano Lígia Ishitani, têm gravadas as inéditas composições completas para canto e piano. “Distintas por seu espírito cosmopolita e cheio de personalidade, as canções de Bosmans transportam vivências e evocações particulares, junto a uma simplicidade complexa, impressões de brasilidade, combinações refinadas de sons com toques românticos, impressionistas e jazzísticos, liberdade estilística e uma elegante ironia”, constatam os musicógrafos.

Sem dúvida, tesouros defendidos pela cantora e o pianista Mauro Chantal. Recital que primou pela excelência de ambos, lançando o CD “Um Doux Refuge”. Elogiável em todos os sentidos, Lígia confirmou talento e técnica de uma estrela que nasce, despontando-se para o mundo!Portadora de linha-de-canto que realça doce timbre, colocado na justa tessitura de puríssimo lírico-spinto, de generosa extensão. Voz audível nos mais recônditos pontos acústicos, em que graves, médios e agudos decorrem límpidos e absolutamente afinados. Muito bonita, assume o palco ostentando requintada postura, simpatia e carisma. Comunicativa, domina o idioma pátrio, expondo com clareza a interpretação. Ou elucidativa master-classe à formação do público.

Mauro Chantal atinge a máxima qualificação, transformando o piano numa orquestra. Ademais, consegue empolgar nos solos valorizados por Bosmans, além de exímio acompanhador.

Evento que teve lugar na emblemática sala de concertos do Conservatório da UFMG, através do projeto “Conexões Musicais”, no dia 26 deste mês. Loas para Guida Borghoff, diretora do espaço, e Mônica Pedrosa, à frente da Escola de Música da UFMG, bem como para a professora Luciana Monteiro (festejada mezo-soprano), dentre outros e outras que contribuíram para o êxito do espetáculo. A despeito da pouca divulgação, a casa esteve repleta, sobretudo de gente nova que ovacionou os recitalistas, sobremaneira cativantes.

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